Faltam 30 dias para eu ir embora — Sr. Gabriel perdeu o controle romance Capítulo 222

Diante de tudo isso, Letícia não aguentou e ligou por chamada de voz, na cara dura, só para xingar o irmão pessoalmente. E não foi pouca coisa. Xingou com vontade, sem piedade, como se guardasse anos de rancor. Até usou exemplos da infância para provar o quanto ele era insuportável desde pequeno.

Beatriz ouvia tudo pelo fone, enquanto Letícia relatava seu traumático passado sob a tirania do irmão. Contava como vivia oprimida por aquela criatura desprezível.

A imagem do rosto abusado e insolente dele surgiu automaticamente na mente de Beatriz. E, sinceramente? Ela acreditava em cada palavra.

Se ele era capaz de tratar assim a própria irmã, o que mais não faria com os outros?

Como dizem: Como dizem: “Gente ruim começa cedo.”

Beatriz expressou solidariedade a Letícia e, num piscar de olhos, a reclamação solitária virou desabafo em dupla. Um verdadeiro pacto de revolta.

— Ai, meu irmão sempre foi assim... — Dizia Letícia, com um suspiro resignado. — Uma vez ele arrancou as orelhas do meu coelhinho de pelúcia e disse que foi a minha almofada de tartaruga que mordeu. Eu amava bolo, mas vivia com cárie. Aí ele comia na minha frente e ainda ria da minha cara. Até presente de aniversário... Nunca acertou um! Só me dava prova de matemática. Quando fui pra faculdade, ele me mandou pelo correio um Manual do Bom Jovem. Escrito à mão! Eu não aguento esse homem.

Beatriz pensou: “Letícia ter crescido e se tornado uma pessoa tão doce foi quase um milagre.”

— Então, Bia, por favor, não fica com raiva. Deixa que eu xingo ele por você! — Insistiu Letícia.

— Ai, nem é só raiva... É que, quando penso que ontem eu cozinhei pra ele, me dá um troço! E ele ainda teve a audácia de jogar isso na minha cara hoje. Dizem que quem come da sua comida amolece... No caso dele, só ficou mais cara de pau. — Beatriz respondeu, completamente indignada.

— Pois é! Eu falei pra você que podia só esquentar umas sobras, lembra? Eu falei pra não se incomodar! — Disse Letícia, já prevendo o sentimento de culpa.

— Como eu ia saber que era seu irmão? Se soubesse, nem as sobras eu dava. Mandava comer vento. — Resmungou Beatriz, mordendo um pedaço de asa de frango com raiva.

Conversaram mais um pouco, riram, desabafaram. Quando desligaram, Beatriz já se sentia muito mais leve. Terminou a refeição, juntou os pratos e saiu da copa.

Subindo de volta para o andar dela, de repente lhe veio à mente a única vez que Letícia descrevera o irmão:

“Ele até que é bonito… Pena que aquela boca só serve pra ser noivo mudo.”

Agora, pensando com calma, finalmente entendeu o que aquilo queria dizer. Não era que ele falasse feio ou tivesse algum problema de dicção...

Era que a língua dele era venenosa demais para ser usada.

Beatriz suspirou.

“Devia ter perguntado mais. Devia mesmo. Teria evitado essa vergonha.”

“Que tipo de garota jovem usa esse tipo de avatar de senhora? Ainda mais alguém da mesma idade da Letícia... Não era pra estar naquela fase vibrante, cheia de corzinha, emoji e filtro?”

Checou o horário do print: começava às 10h10 da manhã.

Ou seja, bem na hora da reunião na Aurora.

E ele, sendo o personagem central daquele desabafo, em momento algum pareceu constrangido ou arrependido. Continuou comendo, como se assistisse a um programa de entretenimento. E, de certo modo, estava mesmo se divertindo.

— Tsc... — Resmungou, com um sorriso torto no canto da boca.

“Por fora todo mundo rindo pra mim, e por trás... Essas pérolas.”

Lia as mensagens como quem aprecia uma obra-prima.

Era um festival de críticas: ácidas, contínuas, sem pausa. Um verdadeiro fluxo de indignação poética.

As mensagens vinham com exclamações e reticências que expressavam claramente o estado emocional da remetente. Era tão vívido que ele quase conseguia visualizar o rosto da garota enquanto digitava, sobrancelhas franzidas, boca apertada, raiva saindo até pelos dedos.

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