“Martim Monterrey”
Durante o resto da tarde eu não saí mais da minha sala e não era porque eu estava muito atarefado, mas sim porque eu estava pensando nas coisas. As coisas que o Emiliano me disse, o beijo que eu dei na Abigail, a brincadeira dela, dizendo que eu me apaixonaria por ela. Minha cabeça dava voltas e mais voltas. E não ajudava a minha mãe ter me enviado uma mensagem dizendo apenas que a Abigail havia escolhido o vestido.
Eu estava confuso, eu já não sabia mais se detestava a Abigail ou se o Emiliano tinha razão e eu tinha me apaixonado por ela. Não, eu não podia me apaixonar por ela, ela era louca pelo Emiliano e eu sabia, se eu me apaixonasse por ela eu ia voltar a sofrer. O melhor seria eu evitar o sofrimento e não voltar a tocar na Abigail. Ou será que o que eu precisava era transar com ela de uma vez para esquecer essa confusão?
- Ai, Martim, mas você é especialista em arrumar problema! – Eu esfreguei os meus olhos.
Já era hora de encerrar o expediente e eu havia combinado com a Abigail que faríamos a mudança dela. E olha aí o problema, nós teríamos que dividir o quarto, a cama! Eu sentiria o perfume dela a noite inteira e ela provavelmente colocaria aquelas mãozinhas gananciosas sobre mim. Isso não vai prestar! Mas agora era tarde pra recuar. Peguei minhas coisas e fui até a sala da Abigail. Dei duas batidinhas na porta e a ouvi dizer para entrar.
- Já está pronta pra ir? – Perguntei da porta. Ela estava fazendo um esboço sobre a mesa de desenho e se virou pra mim.
- Nossa, o tempo passou depressa hoje. Vamos, deixa só eu guardar isso aqui. – Ela me respondeu e juntou o material, organizou a mesa e pegou suas coisas. Ela era metódica e organizada. – Vamos!
- Como foi com a minha mãe e as minhas irmãs hoje? – Perguntei enquanto caminhávamos até a saída. Já estava se tornando um hábito sairmos do escritório juntos, sempre com o meu braço em sua cintura.
- Ah, foi muito divertido! Elas são demais! Me fizeram experimentar um monte de vestidos. – Ela estava descontraída.
- Que bom. Espero que você não tenha deixado a Pilar te vestir como um bolo de noiva. Ela tem certa obsessão por vestidos de baile volumosos. – Eu comentei.
- Deu pra perceber. – Ela riu. – Mas eu não vou te contar nadinha. Dá azar o noivo ver o vestido antes do casamento.
- Assim eu vou achar que você está gostando muito da idéia de se casar comigo, Abigail. – Falei no seu ouvido e abri a porta do carro para ela entrar.
- Já disse, ursinho, por esse anel eu faço qualquer coisa. – Ela ergueu o dedo, tinha mesmo gostado daquele anel.
- Que interesseira! – Nós rimos e eu fechei a porta.
Passamos no apartamento dela e começamos a organizar as coisas. Não era muito, tudo o que ela tinha cabia em duas malas grandes e um caixa, o que me surpreendeu, pois era muito pouco para alguém criada no luxo como ela.
- Só falta uma coisa. – Ela foi até a cozinha e voltou com um vasinho com uma violeta branca linda e cheia de flores. Eu olhei bem para aquele vasinho, um sorriso brotou em meus lábios e algo como esperança surgiu em meu coração.
- Eu quero te beijar. – Era um pedido e ela apenas fez um pequeno gesto com a cabeça.
Fui abaixando a minha cabeça devagar, a respiração ficando entrecortada pela ansiedade, então meus olhos se fecharam e eu a beijei. Um beijo doce e calmo, primeiro foi só um encostar de lábios que se sentiram, depois meus lábios prenderam o seu lábio inferior, como se ele fosse um pequeno favo de mel. E quando seus lábios finalmente se abriram pra mim, a minha língua encontrou a dela e elas se emaranharam, sem nenhuma pressa se tocaram.
Só então minhas mãos pousaram gentilmente em sua cintura e ela tocou o meu peito com sua mão livre de um lado e o vasinho de violeta do outro. E do mesmo jeito sutil e delicado que começou, aquele beijo terminou, suave e deixando nos meus lábios a sua marca, uma que tornaria muito difícil que eu esquecesse aquele beijo.
- Isso foi bom! – Ela falou baixo, ainda de olhos fechados e com a mão e o vasinho de violeta sobre mim.
- Foi muito bom. – Eu concordei e passei o dedo sobre a sua bochecha, só então ela abriu os olhos.
- Vamos pra casa, coelhinha? – Eu recebi um sorriso lindo em concordância.
Nós saímos daquele pequeno apartamento que nos deu aquela atmosfera mágica para aquele beijo. Mas o que era aquilo, aquela sensação de que eu não podia mais controlar a mim mesmo?
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Contrato para o caos: amor à primeira briga
Quero ler capítulos 320...