Brendan sabia que Deirdre tinha se submetido apenas pelo bem de Ophelia, mas o resultado, por si só, era satisfatório. Então, pediu uma pílula para digestão e entregou para Deirdre, que aceitou sem questionar.
Ele verificou o relógio e percebeu que estava quase na hora de sair.
― Eu preciso ir. ―
Ele envolveu Deirdre em um casaco e a levou para fora. Sam estava prestes a segui-lo, mas Brendan o deteve, dizendo:
― Você vai ficar em casa hoje. Deirdre e eu temos negócios particulares para resolver. ―
O doutor Ginger esperou que os dois saíssem, antes de se aproximar de Sam e se apoiar no ombro do segurança, com um sorriso atrevido no rosto:
― Você não consegue ler as entrelinhas, rapaz? Você não percebeu que estão indo a um encontro? ―
― Um encontro? ― Sam franziu a testa. ― Sem chance. ―
― Por que não? ― Ao contrário dele, o médico sabia muito pouco sobre a história confusa do casal. Ainda assim, enquanto sacudia uma toalha para limpar as mãos, apontou: ― O relacionamento deles pode ser bem complicado. Mas, é óbvio que seus corações estão ligados um ao outro. O mal-entendido era criado por algum diabo que os afastava, mas, parece que essa complicação foi resolvida. É certo que eles começarão a sair novamente, como um casal apaixonado, certo? ―
Sam observou o carro desaparecer no horizonte, em saber o que pensar. Parecia que ele era o único que percebia que as coisas nunca eram tão simples quanto aparentavam. Mas, no fundo, ele nunca descobriria o que o senhor Brighthall estava pensando.
Deirdre se contorceu no banco do passageiro. Brendan estava ao volante. A jornada tinha sido extraordinariamente longa e os dedos de Deirdre travaram na ponta do cinto de segurança, enquanto seus nervos a consumiam.
― Brendan? Para onde você está me levando? ―
― Você saberá em breve. ―
Ela mordeu o lábio.
― É outro café para animais de estimação? ―
― Por favor ― o homem bufou, rindo. ― Não reciclo minhas surpresas. Tente outra vez. ―
Ela não tinha outros palpites em mente e Brendan decidiu dar uma dica:
― É um lugar que você queria visitar. ―
‘Um lugar que eu queria visitar?’ A confusão a envolveu. Costumava haver uma variedade de lugares que Deirdre queria visitar. Crescer na favela a privou de muitas coisas, incluindo a chance de ver como era o mundo. Mas agora, com sua cegueira, o mundo exterior parecia traiçoeiro e ameaçador. Ela havia perdido a visão e, consequentemente, perdido de vista seus sonhos.
De fato, era um dos lugares que Deirdre sempre quis visitar. Antigamente, ansiava tanto por tal experiência que até mencionara isso para Brendan, algumas vezes, mas o homem sempre zombara de sua ideia. As únicas pessoas que ficavam impressionadas em um parque de diversões eram as crianças, dissera ele. Era um lugar chato cheio de atrações infantis para os mais novos.
Deirdre ficou surpresa ao saber que era para lá que ele decidira ir. Mas, sacudindo-se de seu choque, ela se virou e disse, com firmeza:
― Vamos para casa. ―
Brendan agarrou seu ombro e a forçou a se virar para ele.
― O que foi? Qual é o problema? Achei que você queria vir aqui. ―
― E eu queria. ― O canto de seus lábios se contraiu. ― Mas, isso foi no passado. ―
Ela apontou para os olhos.
― Não consigo ver nada agora. Eu poderia estar na roda-gigante, onde a beleza da cidade se espalha diante dos meus olhos e não veria nada. Eu poderia estar sentada em uma montanha-russa, enquanto o mundo se torna um borrão e passa voando por mim, e eu não veria nada. Não consigo nem ficar aqui, sozinha, sem ajuda. Preciso ser guiada o tempo todo.
― Eu queria estar em um parque de diversões. Mas, não sou mais capaz de aproveitar. ―
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Ciclo de Rancor
triste não ter o final 🫠...
Cadê o restante?...
😣...
Terá mais capítulos?...
Gostaria de ler o restante do livro...