“Flávio”
Consegui despachar a Sabrina, mas eu continuava inquieto. Pensei bem e decidi ir a Campanário falar com meu pai e tirar essa história da Sabrina reaparecendo do nada a limpo. Eu iria no domingo, um b**e e volta. Ia a Campanário, conversaria com meus pais e voltaria correndo para a minha baixinha. Era preciso enfrentar as feras.
Só que eu não queria que a baixinha soubesse, não queria jogar essa história toda em cima dela. Então falei que estava de plantão. Eu odiava mentir pra ela, mas se contasse da Sabrina e que ainda estava casado a baixinha com certeza ia me deixar. Com todas as convicções dela, seria difícil convencê-la de que eu não tinha idéia de que a Sabrina conseguiu anular a sentença do divórcio e que de toda forma eu ia me livrar dela.
Quando cheguei a Campanário, meu irmão estava me esperando, como combinamos.
- Raul, meu irmão, obrigado por vir me buscar. Como você está? – Abracei meu irmão, que me abraçou de volta.
- Cara, ser o filho mimado que não atende as expectativas dos pais é uma merda! – Raul falou. – Caí na vala comum, junto com você e a Lisa, sou o insensível que não entende que os pais sabem o que é melhor para os filhos e, de acordo com eles, eu deveria ter um filho para entender como eles se sentem. E tudo isso justamente porque a Paula e eu não queremos filhos agora. A vida era mais fácil quando eu era o filho exemplar.
Raul estava indignado e eu não consegui não rir dele. Lisa e eu crescemos ouvindo que deveríamos seguir o exemplo do Raul, que era um bom filho e entendia que os nossos pais só faziam o melhor por ele. Chegava a ser chato, o tempo inteiro ouvir o Raul isso, o Raul aquilo, ele é um bom filho, ele é um filho maravilhoso. Enfim, ele era perfeito, até agora.
- Eu não achei que fosse viver para ver esse dia, o dia em que o Raul deixou de ser o filho maravilhoso. – Ri do meu irmão que balançou a cabeça.
- Vem, vamos lá em casa primeiro, a Paula quer te ver e ela não está indo a casa dos nossos pais. Além do mais eu quero te contar umas coisas.
- Mas a situação está tão feia que a nora perfeita não vai mais visitar os sogros? – Perguntei com uma pitadinha de sarcasmo.
- Cara, está piorando rapidamente. – Meu irmão lamentou.
No caminho para a sua casa meu irmão me contou que os nossos pais o estavam pressionando para que tivesse filhos e que a nossa mãe teve uma discussão com a Paula, pois queria que a esposa do meu irmão deixasse de trabalhar para se tornar uma esposa adequada, nas palavras dela. Quando chegamos a minha irmã também estava na casa do meu irmão.
- Esse comitê de recepção não me cheira bem. – Falei para o meu irmão.
- Você não sabe de nada... – Meu irmão respondeu antes que minha cunhada e minha irmã me abraçassem.
- Cunhado, quantos quartos tem o seu apartamento? – Foi a primeira coisa que a Paula quis saber.
- Três, por quê? – Perguntei rindo.
- Porque você é o nosso plano de fuga. Se tivermos que fugir dos seus pais é para a sua casa que a gente vai. – Ela respondeu rindo.
- Quem diria, cunhada, que você se tornaria a decepção dos Moreno! – Ri da cara de desagrado que ela fez.
- Seus pais são obsessivos e controladores, ninguém merece! O Raul já tem trinta e oito anos, será que eles não entendem? – Paula estava realmente chateada com a situação.
- Não, cunhada, eles não entendem. Estão acostumados a ter tudo o que querem como querem. E ter suas vontades negligenciadas pelos próprios filhos não os deixa felizes. – E era exatamente isso, eles não sabiam lidar com as frustrações.
Depois que a minha cunhada me contou todo o drama dos meus pais em busca de netos e uma nora que não se meta em negócios, foi a vez da minha irmã lamentar sobre o casamento arranjado.
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