“Rita”
Desde que aqueles três voltaram de Porto Paraíso eles estão mudos, não ouvi falar nada deles. E eu que pensei que eles iriam direto para a minha casa me aborrecer por causa do que eu fiz com aquela ratinha. Mas é melhor assim, melhor mesmo eles não mexerem comigo.
Hoje é o dia da audiência do divórcio, finalmente vou me livrar desse chato do Orlando e vou levar metade de tudo o que ele tem, porque boba eu não sou, casei com comunhão de bens. Quando nos casamos ele até queria casar com separação de bens, mas eu fiz um escândalo e jurei que se não fosse como eu queria, eu ia sumir no mundo com a menina. Ele estava chorando ainda por causa da outra filha e acabou cedendo a tudo o que eu queria. Outra filha... ah, se ele soubesse...
Cheguei ao fórum na hora da audiência e o Orlando já estava lá. Me olhou com uma cara de desgosto, mas eu ignorei. O juiz chamou, nós entramos na sala e nos sentamos frente a frente. O juiz perguntou se havia possibilidade de reconciliação e nós dissemos juntos que não. O Orlando mal me olhava. Eu queria rir na cara daquele idiota, mas eu não podia. Então o juiz disse que deveríamos fazer a partilha de bens e o advogado do Orlando entregou a ele os documentos com a lista de bens que deveríamos partilhar.
- Muito bem, pelo que consta aqui, Sr. Orlando, o senhor possui a casa em que a dona Rita mora, um carro e essa quantia de cento e cinquenta mil no banco. Já a dona Rita possui um carro. Como vocês vão proceder à partilha, será amigável?
- Espera aí! – Falei logo, nem pensar que ele ia me dar a volta. – Ele ainda tem a fazenda e o laticínio. Ele está escondendo o patrimônio.
- Na verdade, eu não tenho não, Rita. – Ele me encarou com o esboço de um sorriso. – A fazenda, o laticínio e tudo o mais era patrimônio do meu pai e ele deixou um testamento que foi cumprido e não foi contestado. É tudo do Camilo e da Manuela.
- O que você está dizendo? Eu estava lá, eu ouvi a leitura do testamento. Seu pai te deixou trinta por cento de tudo. – Reclamei e ele riu.
- Dona Rita, pelos documentos que o Sr. Orlando me entregou, e isso inclui o testamento do pai dele, ele realmente não tem mais nada além da casa, o carro e o dinheiro numa conta bancária. – O juiz falou e eu virei meus olhos para ele.
- Acontece, Rita, que meu pai determinou que uma parte do testamento deveria ser lida só depois que a Manuela chegasse a maioridade e somente na presença dos herdeiros dele, que éramos o Camilo, a Manuela e eu. Você se esqueceu disso? – Orlando estava rindo.
Droga! Eu havia me esquecido. Mas o velho não poderia ter tomado o que já tinha deixado. Ou poderia?
- Mas você tinha uma pequena parte da empresa. – Reclamei.
- Ah, isso. Eu vendi para o Camilo e a Manuela, na mesma época do testamento, não fazia sentido eu ter uma pequena parte da empresa deles, além do mais eu precisava de dinheiro para bancar seus luxos. Por isso eu tenho esse dinheiro no banco, é o que sobrou da venda da minha parte da empresa. No mais, eu vivo do meu salário, que paga as contas e seus luxos, que já consumiram boa parte do dinheiro que recebi pela venda da minha parte na empresa. – Orlando estava calmo, com a tranquilidade de quem tinha feito tudo certinho.
Olhei para o advogado ao meu lado, ele estava verificando os documentos que o advogado do Orlando entregou ao juiz.
- É, dona Rita, é isso mesmo. – O advogado ao meu lado, que eu contratei para defender os meus interesses, estava concordando com aquele absurdo. – O Sr. Orlando abriu mão de toda a herança em favor dos filhos Camilo e Manuela e vendeu o pouco que tinha da empresa. Tudo devidamente comprovado e feito dentro da lei.
- Mas nós somos casados, eu tinha que ter assinado para ele fazer isso. – Reclamei.
- Para abrir mão da herança não. Para vender a participação na empresa a senhora deu a ele uma procuração, quando se casaram, para ele administrar a empresa, o que permitiu que ele fizesse a venda. – O advogado me lembrou. Eu fiz isso porque não queria me chatear com assuntos da empresa, mas eu nunca pensei que ele pudesse vender.
- Como é que é? – Olhei para o Orlando furiosa. – Você não pode fazer isso!
- Posso! Tanto posso que fiz. Era o desejo do meu pai e eu cumpri. – Orlando estava muito confiante.
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