“Flávio”
Estávamos no olho do furacão com a situação da Manu, mas eu não pensei que esse furacão fosse me atingir ainda mais. Eu achei que a Sabrina era página virada na minha vida. Quando o Breno me falou o nome dela eu até achei esquisito, pois ele nunca soube da existência dela, mas quando ele me disse o motivo eu senti como se tivesse sido atingido por um trem e sido arremessado para outro lugar. Não senti o copo cair da minha mão, não percebi a Manu se aproximar, minha cabeça girava e meus olhos embaçaram.
Meio que de forma automática pedi que ele me enviasse uma cópia dos documentos, eu precisava tirar essa história a limpo. Senti o toque leve da mão da Manu em meu braço, a olhei, mas era tudo um borrão à minha frente. Lentamente me dei conta que o copo que o copo que eu segurava já não estava em minha e o vi no chão, espatifado, fiz menção de me abaixar para juntar os cacos, mas a Manu me segurou. Ela queria saber se eu estava bem, mas eu não sabia o que responder, pedi um minuto e fui para o quarto.
Quando fechei a porta do quarto, senti o celular vibrar, era a mensagem do Breno com o arquivo que pedi. Comecei a ler aquilo. Havia uma foto da Sabrina, documentos assinados por ela, os valores que ela pagou pelos procedimentos que fez, exames e um relatório sobre o que foi feito. Sabrina estava com três meses de gestação quando procurou aquele lugar e fez o aborto há sete anos atrás. Mas antes disso, ela já tinha feito, no mesmo lugar, três abortos, dois durante o nosso casamento e um antes de começarmos a namorar, quando ainda era uma adolescente. Eu ia lendo e relendo, quase sem acreditar, foram três gestações interrompidas durante o nosso casamento, eu não compreendia porque ela fez isso se eu sempre quis ter um filho e ela dizia que também queria.
Pelo que constava naqueles documentos, da primeira vez, quando ainda era uma adolescente, foi a mãe quem a levou a clínica clandestina, indicada por uma amiga que eu conhecia de vista. Das outras vezes ela foi sozinha. E naquele relatório ainda dizia que da última vez houve uma intercorrência qualquer e que a Sabrina precisou ser levada ao hospital. A mãe dela foi avisada, para acompanhar a filha. Depois disso havia uma anotação com a observação de que, em razão da complicação do último aborto, ela precisou ter o útero retirado e como nunca indicava outras clientes, passava agora a integrar o arquivo de “contribuintes”.
O Breno ainda me informou por mensagem, que o arquivo de “contribuintes” era o arquivo de mulheres chantageadas pela tal Gisele. E ele me enviou um segundo arquivo onde constavam os sete anos de chantagem que a Sabrina pagou, com todas as datas, todas as comunicações entre as duas anotadas, todos os valores pagos e como foram pagos. As quantias eram altas e pagas a cada seis meses, às vezes em dinheiro, às vezes via transferência bancária. A Sabrina gastou muito dinheiro com isso.
Depois de ler tudo e colocar as coisas em perspectiva eu liguei para o meu pai. Obviamente ele não sabia disso, afinal ele sonhava com um neto quando eu estava casado, não teria permitido que a Sabrina fizesse essa atrocidade. Eu precisava falar com ele.
- Flávio! Que bom que você ligou. – Meu pai parecia relaxado, talvez estivesse no clube.
- Pai, onde você está? – Perguntei desprezando os preâmbulos educados de uma ligação.
- Estou em casa, acabei de chegar. O que houve? – Ele ficou sério.
- Acabei de descobrir que a Sabrina fez um aborto. – Falei de uma vez, sem suavizar a informação.
- Quando? De quem ela estava grávida?
- Pai, aquela gestação na época do divórcio. Ela não sofreu um acidente, ela fez um aborto.
- O que você está dizendo, Flávio? Não é possível! Não acredito que essazinha me enganou assim. – Meu pai estava se negando a acreditar, mas eu o entendia, até pra mim era difícil.
- Eu imaginei que você não soubesse mesmo. E não foi o único. – Respirei fundo. – Fecharam a clínica clandestina e encontraram os documentos que provam que a Sabrina fez quatro abortos lá.
- Não, espera, isso pode ser uma armação. – Meu pai não estava acreditando que a Sabrina seria capaz disso.
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