“Rita”
Eu mal cheguei à igreja hoje e a Magda já veio correndo fazer fofoca. Aquela ali sabe de tudo o que acontece nessa cidade, ela deveria publicar um jornal! Mas ela me disse que o Camilo e o Orlando saíram da cidade ontem à tarde, eles só podem ter ido visitar aquela ratinha. Aposto que ela ligou reclamando com o papai que eu estive lá. Mas não estou nem aí, enquanto eu for a mãe, eu faço com aquela garota mimada o que eu quiser. E eu fui até lá só de raiva pelo que aquela estúpida da Olívia fez comigo, eu queria descontar em alguém e o meu saco de pancadas estava lá, então fui atrás dele.
Só que, pensando bem, eu preciso agilizar as coisas. Preciso resolver logo esse assunto da herança e entregar a ratinha para o Cândido. Aliás, quem diria que ele se interessaria por ela. Se bem que dá até para entender, depois que ela resolveu ficar bonita, ela ficou a cara da morta, e o Cândido era louco pela morta, sofreu como um condenado quando ela morreu.
O problema é que eu nunca pensei que aquela garota ia se rebelar, eu passei anos enfiando as coisas na cabeça dela, vigiando, incutindo idéias estúpidas e antiquadas de que tudo era pecado e ela ficaria mal falada, tudo para que ela ficasse bem reprimida, cultivei aquele jeitinho cafona dela se vestir e aquele penteado de tranças e franja horroroso. Até os óculos que eu mandava fazer pra ela eram horrorosos. Desde que ela era pequena eu tomei cuidado de fazer com que ela não se parecesse com ninguém, escondia o rosto dela com aqueles óculos e a franja, a vestia como uma coisinha desengonçada, dava a ela mais comida e doces para que ficasse gorda. Mas aí ela se rebelou, fugiu de casa, saiu do meu controle e num passe de mágica jogou os meus esforços no lixo.
Agora, aquele estúpido do Camilo estava desconfiado, até mandou fazer um DNA, por isso esteve aqui em casa aquele dia, veio atrás dos fios de cabelo na minha escova. Mas eu tive muita sorte de vê-lo saindo do posto médico, claro que eu desconfiei, ele nunca vai ao médico, simplesmente tem horror a médico, mas também tem a saúde de um touro.
Ainda bem que o que não falta aqui nessa cidade é fofoqueiro, aquela garota que trabalha lá ficou mais do que satisfeita em me contar tudo sobre a ida do Camilo ao posto médico. Aí foi fácil resolver e deixar aquele estúpido passar por idiota. Mas eu queria ser uma mosquinha só para ter visto a cara de decepção do Camilo quando recebeu o resultado do exame dizendo que a ratinha é minha filha. Ai, isso deve ter sido engraçado, comecei a rir comigo mesma só de imaginar.
- Está felizinha hoje, Rita. Posso saber o motivo? – O infeliz do Cândido estacou ao meu lado, eu estava tão absorta em meus pensamentos que nem o vi chegar.
- Não é da sua conta. Você demorou a vir. – Reclamei, pois era interesse dele também trazer a ratinha de volta.
- Ao contrário de você, que vive por aí se preocupando com a vida alheia e pensando na próxima maldade que vai fazer, eu trabalho, tenho um negócio para administrar. – Cândido se sentou.
Ele era um homem desagradável, mal educado, tratava todo mundo com grosseria. Aquela coitada que casou com ele até apanhava, acho que morreu de tanto desgosto. Mas, apesar da idade, ele não era de se jogar fora. Não estava em plena forma física, mas também não estava tão mal. Era bem mais velho que o Orlando, coisa de uns dez anos a mais, mas ainda era um homem forte e viril.
- Não te chamei aqui para me ofender. – Reclamei, eu não me calava pra ele.
- Então fala logo o que quer, do que você precisa para trazer a minha noiva de volta? – Ele sorriu, muito satisfeito por colocar as mãos na ratinha.
- Me diz, Cândido, esse seu interesse repentino pela minha filha, é só porque ela é jovem ou porque ela te lembrou da morta? – Eu dei um sorriso falso pra ele, mas o homem ficou uma fera.
- Não fale dela, você não é nem digna de tocar no nome dela. Ela era uma boa mulher, decente, honesta. Já você, não passa de uma... – Ele não ia me ofender na minha casa.
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