“Samantha”
Os dias tem passado de forma cada vez mais lenta. Depois que eu tive aquele sonho com o Heitor no meu apartamento, senti que algo em mim se quebrou de vez. E uns dias depois ele me viu no restaurante e me olhou com uma cara de desgosto que acabou de aniquilar meu coração. Eu estava sofrendo, mais do que imaginei que fosse possível alguém sofrer.
A Catarina estava no final da gestação e estavam todos tão animados com os quadrigêmeos que eu não tinha o direito de levar meus problemas para eles. Eu a visitava toda semana, mas fazia visitas breves, evitava ficar muito tempo com as garotas e não falava de mim. Me esquivava delas o quanto podia, não queria que se preocupassem. De igual maneira eu me esquivava do Enzo, que estava sempre me ligando.
Mas eu tinha um amigo muito fiel. Nos últimos meses Vinícius se tornou meu confidente, ele sabia o que eu estava passando, ele também tinha sua própria dor pelo abandono. Então nos apoiamos mutuamente. Ele fazia as queixas dele e eu as minhas. Mas ele sempre repetia que eu estava sendo orgulhosa e deveria procurar o Heitor. Só que eu sempre dizia que tinha certeza que o Heitor já havia me esquecido.
Nos últimos meses eu ainda recebi algumas cartas do Rômulo, ainda chegavam no antigo endereço, então fui até uma agência de correios e informei que eu havia me mudado, mas não queria que meu novo endereço fosse divulgado. Com isso, as cartas já não chegavam há dois meses e eu me senti um pouco melhor. Além do mais, o Flávio e o Bonfim ainda estavam investigando.
Outra coisa que me fez sentir bem foi que o Reinaldo Martinez havia sumido. Há meses tinha deixado de me perturbar e isso era mesmo um alívio. Talvez tenha se cansado e ido embora finalmente.
Eu sentia os olhares dos rapazes sobre mim, Patrício, Rick e Alessandro, e até o Nando e o Flávio quando nos encontrávamos, como se quisessem me contar algo, mas simplesmente não tivessem coragem. Eu ignorava e fingia que não via. Talvez quisessem me dizer que o Heitor já estivesse com outra, mas isso era lógico pra mim, Heitor jamais ficaria sozinho.
Nos últimos dias, muitas coisas aconteceram e foi realmente uma loucura. Catarina teve os bebês e um quase foi seqüestrado do hospital. Junqueira invadiu a casa deles e feriu o Alessandro, mas felizmente aquele monstro foi preso e o Alessandro está se recuperando. Depois de tudo, agora parecia que Catarina e Alessandro teriam paz. Mas Catarina me chamou para uma conversa, só nós duas, e isso eu estranhei.
- Cadê os bebês mais lindos do mundo? – Cheguei fazendo festinha com os quadrigêmeos que estavam espalhados nos carrinhos pela sala.
- Acabamos de dar uma volta no jardim. – Cat falou me abraçando. – Como você está minha amiga?
- Estou bem, Cat. E você?
- Preocupada com você. Eu sei que estive meio distante, com o repouso absoluto da gravidez e todo o resto que aconteceu, mas agora que tudo acabou e está tudo em ordem, eu não vou descansar até você me contar tudo. – Catarina me puxou para o sofá.
- Não há nada para contar, Cat. – Tentei soar tranqüila.
- Sam, posso te dizer uma coisa? – Cat falou toda gentil.
- Cat, se for sobre o Heitor, não. Por favor, vamos só deixar o passado no passado.
- Mas, Sam... – Olhei pra ela suplicando e ela parou de falar.
- Obrigada por entender. – Meus olhos estavam marejados.
- Mas você será madrinha da minha filha, ou vai nos desprezar assim? – Cat fez um biquinho e eu ri.
- Mas é claro que eu vou ser a madrinha dessa fofura da Maitê! – Brinquei com a garotinha que me olhava com lindos olhos azuis e sorria.
- Mas você sabe que o Heitor é o padrinho. – Cat finalmente deixou transparecer o que a preocupava.
- Não tem problema, Cat. Posso lidar com isso. Estarei no batizado e em tudo o que a Maitê precisar da dinda, não vou te decepcionar. – Garanti.
- Mas vai sofrer. – Cat suspirou.
- Vai passar. – Segurei sua mão e dei um leve aperto.
Dei uma desculpa qualquer e saí da casa da Cat antes do horário habitual dos outros chegarem. Todos os dias, depois do trabalho, nos encontrávamos lá para ver os bebês. Mas eu estava tentando evitar isso, então eu passava um pouco mais cedo ou na hora do almoço, ou, quando não tinha jeito, saía depressa.
Contudo, quando eu estava saindo, o Heitor estava chegando. Nossos olhos se encontraram e se prenderam, mas nenhuma palavra foi dita. Ele estava meio bagunçado, sem o paletó e a gravata, com a camisa meio amarrotada, o cabelo desgrenhado e a barba por fazer, tinha um aspecto desleixado e estranhei isso, ele normalmente não era assim, mas vai ver tinha vindo de algum encontro com uma nova conquista. Meu coração se apertou no peito. Então me desviei e passei por ele sem dizer uma palavra.
Cheguei em casa e olhei para aquele apartamento vazio, que estava tão bagunçado quanto o Heitor. Sorri tristemente, aquele apartamento refletia o meu estado de espírito. Liguei para o Vinícius e o convidei para uma pizza, eu precisava desabafar.
- Pelo amor de deus, Samantha! – Vini olhou ao redor chocado. – Que bagunça é essa?
- Ai, Vini, isso é como eu estou por dentro. – Reclamei sentindo pena de mim.
- Ah, para, Sam! Isso está indo longe demais. Olha a bagunça desse lugar! – Vini foi até a cozinha e voltou com balde, vassoura, rodo, produtos de limpeza e sacos de lixo. – Anda, tira a bunda desse sofá e vamos arrumar sua casa.
- Numa echarpe colorida.
- Uma de fundo azul marinho?
- Essa.
- Ela estava ao lado da mesinha de cabeceira no seu quarto, bem no cantinho. O vento pode ter derrubado o bilhete e como você deixou esse AP ficar bem bagunçadinho... – Vini sorriu pra mim. – Anda, liga pra esse homem, porque até eu já gosto dele depois desse bilhete.
- Vini isso faz meses! Foi naquela noite em que fomos na choperia. – Expliquei.
- Aquela noite que você sonhou com ele? – Eu havia contado para o Vini sobre aquela noite depois dele me infernizar para saber o motivo de eu estar chorando tanto.
- Essa mesma.
- Então não foi sonho? – Vini me olhava incrédulo. – Me apresenta esse cara, preciso aprender a deixar uma mulher do jeito que ele te deixou.
- Chorando? – Debochei dele.
- Completamente apaixonada, sua boba. – Vini riu. – Anda, liga pra ele.
- Não dá, Vini, ele já me esqueceu.
- Eu duvido muito, Samantha! Você não é uma mulher que se esqueça tão fácil. – Vini colocou a mão no meu ombro.
- Você acha de verdade que eu ainda tenho chance? – Perguntei de olhos baixos.
- Minha linda, um homem que escreve um bilhete assim não vai te esquecer nunca! Liga pra ele, você é senhora do seu destino, faça a sua chance! – Vini me estendeu o celular.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Chefe irresistível: sucumbindo ao seu toque