“Samantha”
Eu pensei que esse pesadelo tinha acabado, mas não tinha. O Rômulo ainda não tinha me esquecido. E minha mãe entregou a carta na frente do Heitor, eu sabia que ele tinha notado que fiquei nervosa, mas logo que chegamos ao meu apartamento ele perguntou. Era hora de contar pra ele o que estava acontecendo.
Depois de ver que o Enzo e a Clara estavam bem instalados e já estavam na cama, tomei um banho rápido e encontrei o Heitor no quarto, sentado na cama a minha espera. Peguei a carta que minha mãe me entregou na bolsa e as anteriores na cômoda e fui para a cama.
Abri a nova carta antes de falar e comecei a tremer e não contive as lágrimas. Era mais uma ameaça e agora também o ameaçava. Heitor me puxou para o seu peito e passou as mãos por minhas costas tentando me acalmar.
- Posso ver essa carta? – Ele perguntou e eu aquiesci. Ele beijou o topo da minha cabeça e pegou a carta a lendo em voz alta. – “Sentiu minha falta, minha preta? Acho melhor você parar de se encontrar com aquele playboy de merda. Você é minha, Samantha. E quando eu sair, o que não vai demorar, eu vou atrás do que é meu. Você vai implorar de joelhos pra ficar comigo depois que eu matar a vaca da sua mãe, o playboy de merda e aquela ridícula da Manuela.”
A cada palavra que ele lia, o medo crescia dentro de mim. Nas cartas anteriores ele não tinha sido tão direto, quanto nessa. Eu comecei a ficar apavorada. Entreguei as outras cartas para o Heitor que as leu em silêncio. Ele continuou abraçado comigo até que eu me acalmei e parei de chorar.
- Samantha, desde quando você está recebendo essas cartas? – Heitor perguntou e parecia tentar controlar a raiva.
- Já tem um bom tempo. Eu falei com o advogado que informou ao juiz e o Rômulo havia sido transferido, então tinha parado, mas agora recomeçou. – Expliquei.
- E por que você não falou comigo? – Heitor estava com as mãos fechadas em punho.
- Porque começaram logo que seu pai chegou e você já estava cheio de preocupações, eu não queria ser mais uma. Aí aconteceu tudo o que aconteceu. Enfim... – Tentei me explicar, mas entendia a raiva dele.
- Sam, ainda que o mundo estivesse desabando na minha cabeça, se acontece algo com você eu quero saber. Você não pode me esconder esse tipo de coisa! – Heitor reclamou.
- Heitor, olha... – Ele nem me deixou falar.
- Heitor nada, Sam! Porra! Eu tenho meios de proteger você. E mais do que isso, nós somos um casal, temos que compartilhar as coisas. Um lunático está te ameaçando e você não me conta. – Ele estava se alterando, mas eu dei uma risada amarga.
- Nós não somos um casal. E, aliás, você esqueceu de compartilhar comigo que pensou que eu te traí com o seu pai. – Me levantei da cama com muita raiva e fui pra cozinha fazer um chá.
Logo o Heitor chegou na cozinha e me abraçou por trás.
- Rouxinol, eu errei, deveria ter ido até você imediatamente. Mas eu não fui, não te contei, e olha a merda que deu. Agora você diz que nós não somos um casal e eu estou implorando o seu perdão. – Heitor deu um beijo no meu rosto.
- Olha, Heitor, nós tivemos um fim de semana tão bom. Um dia tão incrível com os garotos hoje. Eu só quero dormir. – Falei me virando de frente pra ele.
- Nosso dia foi incrível! Eu quero ter milhares de dias assim com você! – Ele sorriu abraçado a mim. – Mas para isso, nós precisamos conversar e falar sobre todas as coisas incômodas e todas as preocupações e fazer um pacto de não esconder nada mais um do outro, por mais difícil que seja.
- Você tem razão. – Suspirei.
- Ótimo, porque eu quero saber porque aquela quadrilha de mulheres da qual você faz parte não me contou nada. – Heitor pegou duas canecas no armário, colocou mel em cada uma e preencheu com o chá.
- Quadrilha? – Perguntei achando graça.
- Sim, vocês são uma quadrilha, bem organizadas e prontinhas para dominar o mundo. E nos tem na palma de suas mãos. – Ele colocou as canecas na mesa e me puxou para me sentar em seu colo. Eu ainda estava rindo quando ele fez a pergunta seguinte. – Quando você vai me contar que o Reinaldo está indo atrás de você?
Soltei um longo suspiro. A conversa seria longa, mas era melhor tirar esse curativo de uma vez.
- Ele mandou flores e ligou. O Rick o enquadrou e ele me deixou em paz. – Eu olhava para o chão. – As garotas não te contaram porque elas só descobriram há uma semana sobre as ameaças e sobre o seu pai. Só a Manu que sempre soube. Aliás, a minha mãe não sabe, não sabe nem que terminamos.
- Eu nunca terminei com você! Se corrija, porque nós não terminamos, tivemos problemas que estamos resolvendo, mas não terminamos. – Heitor insistia nisso.
- Por que não?
- Porque hoje tem reunião emergencial das garotas. Manu está com problemas.
- E o problema dela se chama Flávio Moreno?
- O próprio! – Heitor sorriu.
- Posso te pegar depois.
- Melhor não, eu estou cansada. Nos falamos amanhã.
- Me tira desse castigo, Rouxinol! – Heitor falou manhoso, apoiando a cabeça no encosto do banco. Ele estava implorando e era fofo.
- Posso perguntar uma coisa?
- Tudo o que você quiser.
- Por que você não me chama mais de “minha deusa”?
- Porque nós estamos recomeçando e eu te disse que você é meu rouxinol.
- Mas eu também gosto de ser sua deusa. – Dei um selinho nele e saí do carro, o deixando para trás com um sorriso de orelha a orelha.
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