“Heitor”
Saí da casa da Samantha sabendo que ela precisava das amigas e que não as chamaria. Então liguei pra Melissa e contei tudo, nem precisei pedir, Melissa garantiu que acionaria as garotas e iriam todas pra lá. Mas antes ela me fez um belo sermão, frisando o quanto eu sou idiota e vacilão. Eu não escutava essa palavra há anos, mas foi exatamente isso que ela disse e tinha razão.
Meus medos, inseguranças e toda a porcaria que meu pai representa em minha vida tinham me ferrado. Havia uma grande chance da Samantha nunca me perdoar. Mas eu tinha que continuar tentando.
Não demorou muito e o Patrício, o Nando e o Rick invadiram a minha casa. Contaram que as garotas passariam a noite com a Sam e assim como ela precisava das amigas, eles também estavam ali para me apoiar e me trazer de volta pra realidade. Conversamos e enchemos a cara.
Quando consegui chegar ao escritório no outro dia já passavam das dez da manhã e a ressaca estava acabando comigo. A Julia só balançou a cabeça, vendo o meu estado lastimável. Minha gravata estava torta, meu paletó estava pendurado no braço, meu cabelo nem parecia ter sido penteado naquela manhã e eu estava de óculos escuros dentro do escritório. Era mesmo uma visão triste.
Quando cheguei a minha sala deu de cara com a Melissa deixando umas pastas em minha mesa.
- Ê, Martinez, a farra foi boa foi? – Melissa já veio para o meu lado e sua voz me pareceu alta demais.
- Mel, fala baixinho, por favor. – Sussurrei pra ela, que me cheirava como se fosse um cachorrinho.
- Fala baixo nada, Martinez! Eu te avisei que não te quero de ressaca no escritório. E ainda por cima chega atrasado e está fedendo a álcool. Isso não é modo de um empresário do seu nível se apresentar. Vocês só sabem encher a cara quando se juntam? – Melissa ia começar o discurso de que eu preciso ter uma imagem condizente com o meu negócio.
- Mel, por favor, hoje não. – Suspirei. – Me conta como a Sam está.
- Ela está bem. Até vai ao cinema com o Miguel hoje. – Melissa falou como se falasse do tempo.
- O que você disse? – Perguntei.
- Disse que vou te trazer um comprimido e um café forte. Você vai deitar naquele sofá e dormir até a hora do almoço e à tarde nós vamos trabalhar. – Melissa foi ditando ordens.
- Eu estou indo lá no Mellendez agora. – Levantei e ela me empurrou na cadeira de novo.
- Você não vai a lugar nenhum. Sentadinho e presta atenção, hoje você não vai perturbar a Sam. Só hoje você vai deixar ela ir ao cinema e se divertir um pouco. E amanhã você não vai chegar aqui nem bêbado, nem atrasado. Entendeu, Martinez? – Melissa parecia um general colocando o pelotão em formação.
- Melissa, você acha mesmo que eu vou deixar a minha mulher ir para o cinema com um cara? Você está muito enganada!
- Eu nunca me engano, Martinez! E você não tem que deixar. Você fez uma merda grande e a Samantha VAI ao cinema com um amigo. E eu não quero ouvir nenhuma reclamação mais sobre isso.
- Gata, se quiser minha ajuda pra fazer essa mudança, eu tô na área. – Enzo não perdeu tempo em se oferecer.
- Quando foi que a Perla foi morar com o namorado? – Insisti no assunto.
- Sábado. – Melissa e Enzo responderam juntos.
- O que mais eu ainda não sei? – Perguntei e vi a Melissa por um breve momento enrijecer, como se pensasse se falaria ou não. Mas eu peguei sua mudança, tinha algo mais ali. – O que mais eu não sei, Melissa?
- Que você é um prostituto idiota que fodeu com uma puta qualquer porque não confiou na sua namorada? – Melissa me olhou com cinismo.
- Melissa Lascuran... – Eu iria adverti-la, mas ela me mostrou de novo quem manda nesse escritório.
- Martinez, nem se atreva! – Melissa se pôs de pé e aumentou o tom de voz. – Você está na corda bamba comigo, me estressa só mais um pouquinho e eu vou ser uma megera com você até a Sam te perdoar, e isso pode levar uma vida inteira, ou duas, pra acontecer!
Eu sabia que ela não estava brincando e sabia que ela poderia ser pior que uma megera. Era melhor deixar os ânimos se acalmarem ou tentar arrancar do Enzo se ele soubesse. Respirei fundo, fechei os olhos e contei até dez. Eu tinha medo da minha assessora? Sim, eu tinha medo da minha assessora. Às vezes Melissa parecia realmente uma psicopata, pronta para fatiar as suas vítimas e rir com isso.
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