“Heitor”
Ajudei a minha irmã a entrar no carro. Eu estava preocupado com ela. Depois daquele show de horror dado pelo nosso pai. Hebe estava fragilizada, apesar de tudo ela amava aquele homem e tinha dificuldade de se desprender daquele crápula. Sei que hoje foi um golpe duríssimo para ela.
Peguei o celular e liguei para o meu cunhado enquanto caminhava até o meu carro no estacionamento. Expliquei para ele tudo o que aconteceu e ele disse que iria pra casa imediatamente cuidar dela. Isso me tranqüilizou um pouco. Fiquei de passar lá mais tarde. Entrei no meu carro e dirigi rumo ao Clube Social com um péssimo pressentimento.
Ao chegar ao Clube, mais por costume que qualquer outra coisa, estacionei na vaga de sempre, aquela ao lado do muro no final da área de estacionamento. Entrei no Clube me sentindo cansado, exausto para ser bem sincero, talvez, depois de conversar com o gerente e resolver sei lá o quê eu ficasse por aqui e encontra-se algo para me distrair.
Fui conduzido até a sala da gerência, onde o Sr. Sebastião já me esperava e me cumprimentou com toda a formalidade tão logo entrei.
- Sr. Heitor, muito obrigado por nos atender tão prontamente. Posso lhe oferecer um café, uma água...
- Obrigado, Sr. Sebastião, mas não quero nada. Confesso que estou curioso com o seu chamado.
- Ah, claro. Eu lamento não ser por motivos melhores.
- E o que aconteceu?
- Bem, Sr. Heitor, nós temos tido problemas com o Sr. Reinaldo Martinez, seu pai. Como o senhor é o associado titular aqui do clube e ele consta como seu dependente, nós temos que notificá-lo e informar da punição.
- Claro que tem a ver com ele! – Eu já estava mais do que cansado do Reinaldo. – O que ele fez agora?
- O Sr. Reinaldo está assediando as moças no clube de uma forma muito intrusiva, digamos assim. Já houveram cinco incidentes comunicados a esta gerência formalmente e um incidente que não foi formalmente relatado, mas que, assim como os outros, precisou de intervenção da equipe de segurança, como o senhor deve saber. – O Sr. Sebastião ia falando e eu ia ficando mais enojado com o comportamento do homem que era o meu pai.
- Seis incidentes no total. – Falei e o gerente anuiu. – Por que um deles não foi relatado? E por que eu deveria saber desse em específico? – O gerente pareceu constrangido e meio sem saber o que fazer ou como falar. Então insisti: – Sr. Sebastião?
- Ai, isso não vai ser bom... – Ele lamentou. – Nós temos imagens da câmera de segurança em todos os casos. Vou lhe mostrar o primeiro caso, justamente o que não foi relatado, depois se quiser mostro as demais.
O gerente colocou o vídeo no computador e me virou a tela. O incidente foi filmado por três câmeras diferentes. Todas as câmeras eram de altíssima resolução, era possível ver a cena como se fosse uma imagem de cinema, bem como todas tinham áudio.
O gerente escolheu uma das câmeras e apertou o play. A cena se desenrolou, era a Samantha saindo do toalete feminino quando deu de cara com o meu pai que a prensou contra a parede e tentou agarrá-la, enquanto ela claramente tentava se desvencilhar dele e dizia para ele se afastar. Mas ele a agarrou e se não fosse pela chegada do segurança, sinceramente, não sei até onde ele iria. Ao fundo se via a Isabella segurando o celular.
Olhei a data e a hora do vídeo e condiziam com a data e hora aproximada da foto que a Isabella me mandou. Minha cabeça girava, eu sentia o sangue martelando em meus ouvidos, meu estômago embrulhava, meus olhos estavam cheios d’água. A que ponto esse homem chegou! A que ponto eu cheguei!
O gerente colocou uma dose de whisky na minha frente e eu agradeci silenciosamente e virei o líquido âmbar de um só gole. Limpei a garganta e tomei coragem para perguntar:
- Tem imagens de onde eles estavam antes e de com quem conversavam?
- Claro, imaginei que o senhor fosse perguntar por isso e já deixei separadas. – Sebastião falou e abriu as imagens do salão do restaurante.
No trecho de imagem que ele me mostrou, Samantha estava com as garotas numa mesa próxima a porta por onde saiu para ir ao toalete. Ela estava de costas para o restante do salão. Meu pai estava sentado numa mesa mais ao fundo onde eu identifiquei cada homem, entre eles o Junqueira e o pai da Isabella. A Isabella estava com um grupo de mulheres em uma mesa mais ao meio do salão. Quando a Sam saiu do salão o Reinaldo passou e chamou a Isabella, após falar com ela vai atrás da Samantha.
- Separei um trecho que achei interessante para lhe mostrar. – Sebastião fala e me mostra uma cena em que se vê o Reinaldo agarrando a Samantha mais ao fundo e a Isabella nitidamente tirando uma foto. – Depois disso, o segurança trouxe o seu pai até mim e eu o mandei retirar do clube naquele dia, então na saída ele conversou com a Srta. Isabella Botelho. Aqui o vídeo. – O vídeo mostra Isabella e meu pai sorrindo e ela mostra algo no celular pra ele.
Eles armaram para a Sam e eu caí como um idiota. Eu tinha um nó na garganta impedindo minha respiração. Ela nunca me perdoaria! Como eu fui tão cego?
- O senhor quer ver os outros vídeos? – O gerente me perguntou.
- Todos são mais ou menos a mesma coisa? – Perguntei de cabeça baixa.
- Tem uma pequena variação, uma foi beijada lascivamente na boca, uma teve os seios apalpados e, no caso mais grave, ele levantou o vestido da garota e tocou sua região íntima, se é que o senhor me entende.
- Imagino que elas queiram denunciá-lo. – Falei com ódio nublando minha mente.
- Sim, senhor. No caso da última garota que falei ela é menor de idade, tem dezessete anos, e é filha de um juiz. As outras tem entre dezoito e vinte anos e concordaram em não denunciar a polícia.
- Deixe que denunciem! – Falei sem nem precisar pensar. – Esse homem está abusando de mulheres aqui dentro do clube. Por que o senhor esperou seis casos para me contatar?
- Ah, esqueceu? Vou refrescar sua memória. Eu estou falando do seu planinho com o meu pai para me separar da Samantha.
- Tchutchuco, mas eu não fiz nada.
- Ah, Isabella, vocês se esqueceram que há poucos meses o clube trocou todo o sistema de segurança e que agora tem câmeras para todo lado aqui, né. Eu vi um vídeo muito interessante de você e meu pai tramando o golpe.
- Heitor, seu pai me convenceu... – Ela queria se justificar.
- Nem gaste o seu latim, Isabella. – Dei as costas e saí andando, mas resolvi voltar para dar um aviso. – Só para você saber, eu vou informar sobre isso ao seu pai.
- Heitor, não... Heitor... pelo amor de deus, não faz isso. – Ela caminhava apressada atrás de mim.
Entrei no meu carro e antes de arrancar dei o aviso final:
- Não cruze mais o meu caminho. Não fale comigo. Finja que eu não existo e se me vir saia antes que eu te veja, ou eu acabo com você!
Arranquei o carro e saí dali depressa. Eu ia para a empresa do Alessandro, mas, no meio do caminho, meu celular chamou, era o Rick.
- Heitor, emergência na casa do Patrício. – Rick estava afobado.
- O que foi agora Rick, eu não estou num bom momento. – Falei cansado.
- Pois então fique! O Alencar descobriu a mulher misteriosa do Alessandro. Patrício pediu para irmos todos pra lá.
- Isso é sério? – Falei surpreso e Rick confirmou. – Está bem, já estou a caminho.
Fiz o primeiro retorno e fui em direção a casa do Patrício. Eu sabia o quanto era importante para o Alessandro encontrar essa mulher.
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