“Samantha”
Abri os olhos e o quarto estava escuro, o que era estranho, pois eu estava me sentindo descansada, como se tivesse dormido por horas. A bem da verdade, eu gostaria de dormir por uma semana e quando acordasse saber que o terror que vivenciei ontem não passou de um pesadelo. Mas não era assim, infelizmente foi real.
Quando fecho os meus olhos, chego a sentir a gastura pelo toque das mãos do Reinaldo em mim. No fundo da mina garganta o nó que se formou com o medo do ataque daquele monstro, ainda não se desfez por completo. Por mais que eu não quisesse imaginar, eu sabia bem o que teria acontecido comigo se o Heitor não tivesse chegado. Eu nem sei como ele chegou, como me encontrou. A única coisa que sei é que ele chegou em tempo e evitou o pior, ele me salvou.
Me encolhi na cama vendo seu lado vazio. Puxei seu travesseiro contra o meu corpo e o abracei sentindo o seu cheiro. Por que ele não está aqui? Será que depois de ver o pai dele me agarrando não vai mais conseguir ficar perto de mim? Ainda que tenha sido a força e que o Reinaldo sequer tenha conseguido me beijar, será que o Heitor consegue viver com isso?
Senti uma tristeza se abater sobre mim, era algo enorme e incontrolável. O horror de ter sido subjugada e de quase ter sido violentada me deixava com náuseas e já era difícil de lidar. Além disso, imaginar que o Heitor me deixaria doía além do que minhas forças poderiam me fazer suportar. Por que ele não podia estar ali comigo? Eu precisava do abraço dele, do carinho. Nem o Canela estava por perto. Eu me senti sozinha e abandonada.
As lágrimas rolaram pelo meu rosto e eu simplesmente as deixei cair uma a uma. Meu corpo doía, minha alma doía, até minha mente doía. Senti uma mãozinha quente e delicada tocar o meu rosto, abri os olhos devagar e o quarto estava banhado em luz. Quatro pares de olhos me observavam apreensivos. Eu apenas abri os braços.
- Eu preciso de abraços! – Falei enquanto eles me envolviam em um monte de braços.
- Rouxinol, por que está chorando? – Heitor perguntou se deitando atrás de mim e me envolvendo em seus braços.
- Porque achei que você tivesse me deixado. – Funguei e senti a mãozinha da Clara de novo no meu rosto.
- Tia, minha mãe fala pra eu não chorar porque dá ruga. – Clara falou bem séria e eu dei uma pequena risada.
- Que bom que vocês estão aqui! – Apertei ela e o Enzo em meus braços e senti o focinho do Canela cutucando o meu pé. – Você também, Canela. – Ele se deitou e apoiou a cabeça sobre os meus pés.
- Preste bastante atenção, por eu vou dizer isso sempre, pelo resto da vida, eu nunca vou deixar você! – Heitor falou e deu um beijo em meu pescoço. – E nem esses dois, agora são nossos de papel passado.
- Tá brincando? – Perguntei entrando na brincadeira.
- Não estou não. O Edu prometeu. – Heitor riu e o Enzo fez um estralo com a língua.
- Até parece que eles vivem sem a gente. – Enzo riu.
- Agora vivem, já tem o Trufa e o Pipoca. – Clara confirmou. – Ou você ainda não percebeu que a mamãe dá petisco escondido pra eles e o papai brinca com os dois no jardim?
- Aquela embusteira! – Enzo fez cara de decepcionado.
- Embusteira? Essa é a sua palavra da semana? – Clara olhou para o irmão.
- É sim! Legal, né?! – Enzo estava contente, mas eu ainda não tinha entendido.
- A minha é melhor. – Clara falou com desdém.
- Você sempre diz isso. – Enzo implicou com ela.
- E sempre tenho razão. – Clara era uma menininha muito altiva.
- Significa prêmio, recompensa, congratulação, retribuição, compensação. – Clara era puro deleite compartilhando sua descoberta.
- Vou ter que pedir umas dicas de como ser mãe pra Hebe, ela tem umas idéias geniais. – Comentei.
- Já vai começar a torturar nosso priminho. – Enzo reclamou.
- Dorminhoca, o que você acha de vir tomar o café da manhã na piscina com a gente? – Heitor falou e me deu um beijo.
- O quarto estava tão escuro que pensei que ainda era noite. Quantas horas? – Perguntei começando a clarear a mente.
- São dez da manhã. – Enzo informou as horas. – Se apressa, porque meu priminho e eu estamos com fome. – Enzo se levantou da cama me fazendo rir, eu estava mesmo com fome.
- Nossa, dormi demais. – Me assustei com as horas.
- Calma, Rouxinol, o Álvaro te deu um remédio ontem pra você relaxar, por isso dormiu tanto. – Heitor me deu um beijo no rosto e me ajudou a me levantar. Enzo, Clara e Canela já estavam saindo pela porta.
- Nós vamos mesmo ficar com eles? – Olhei suplicante para o Heitor.
- Ainda que pra isso eu tenha que obrigar o Edu a manter sua palavra. – Nós rimos da nossa pequena brincadeira, mas eu amava ter aqueles dois por perto.
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