“Heitor”
Aquele cretino do Reinaldo perdeu completamente a noção. Ele nem se dá mais ao trabalho de fingir ser um pai minimamente afeiçoado aos filhos. Me cercar no restaurante foi muita ousadia.
Voltei para o escritório e pedi algo para comer por aqui mesmo, só pra não ter o desprazer de olhar para a cara dele de novo. Enquanto comia, liguei para o meu cunhado Eduardo e expliquei o que aconteceu, ele me garantiu que o Reinaldo não se aproximaria nem da Hebe, nem das crianças e muito menos da minha mãe. Depois liguei para a minha mãe e ela pediu para eu me acalmar, que as coisas se resolveriam.
Quando a Julia e a Melissa voltaram do almoço eu as chamei em minha sala, precisava alertá-las também, elas estavam sempre muito perto de mim e poderiam ser usadas.
- Garotas, talvez eu deve colocar um segurança para cuidar de vocês. – Falei depois de contar toda a situação.
- Heitor, fica tranqüilo, seu pai não nos ameaçou, nós não somos alvos dele. – Melissa tentou me acalmar, mas notei que a Julia estava muito tensa. Ela sempre ficava muito nervosa quando o assunto era o meu pai.
- Julia, você está bem? – Perguntei vendo que ela estava um pouco trêmula.
- Estou sim, Heitor, não se preocupe. – Ela respondeu, mas não me convenceu.
- Julia, seja sincera comigo, porque você fica tão nervosa quando o assunto é o meu pai ou quando ele aparece? – Resolvi perguntar direto.
Eu havia notado isso muito recentemente, mas parei pra pensar e sempre foi assim, sempre que o Reinaldo aparecia a Julia ficava nervosa e dava um jeito de sumir de vista, quando falávamos dele ela ficava nervosa. Sim, ela sempre o detestou e sempre deixou isso claro, mas eu nunca soube porque.
- Eu não gosto dele, Heitor. E você sabe disso. – Julia foi enfática.
- Sim, mas tem alguma coisa que eu não sei Julia. Eu comecei a notar que é mais do que simplesmente não gostar dele. – Insisti.
- Julinha, conta pra ele. O Heitor precisa saber. – Melissa falou e segurou a mão da Julia.
- Meu deus, o que aquele homem fez com você, Julia? – Coloquei a mão na testa, eu já esperava o pior. Julia suspirou e olhou para o lado.
- Eu trabalho aqui há muitos anos, Heitor. Comecei como recepcionista, você sabe disso. – Os olhos dela lacrimejaram quando começou a falar.
- Sim, Julia, meu avô contratou você, que era filha da secretária dele. Eu ainda me lembro que ele dizia que você seria treinada para substituir sua mãe quando ela se aposentasse. – Comentei com um sorriso.
- E foi isso o que aconteceu! – Ela deu um meio sorriso. – Sou muito grata ao seu avô, ele era um homem decente. Mas seu pai, não tinha nada dele, certamente puxou aqueles imprestáveis dos irmãos da sua avó.
- Eram mesmo um bando de aproveitadores. – Me lembrei da família da minha avó paterna, da qual eu custei a me livrar.
- Quando o seu pai veio trabalhar na empresa, eu era recepcionista. Ele vivia me cercando com aqueles galanteios de quinta categoria. – Julia bufou. – Eu já estava noiva, Heitor. E ele estava de casamento marcado com a sua mãe. Naquela época, não existia tanta liberdade sexual, a mulher se casava virgem e os casamentos eram para a vida toda.
A medida que falava, as lágrimas caíam dos olhos da Julia. Eu já podia imaginar o que ela tinha pra contar e uma raiva se agitou dentro de mim.
- O que aconteceu, Julia? – A encorajei a continuar contando.
- Sempre que a minha mãe precisava faltar, seu avô me colocava no lugar dela. – Julia explicava com os olhos nublados por uma lembrança amarga. – Naquele dia, minha mãe precisou sair logo depois do almoço para levar meu irmão mais novo ao médico e seu avô mandou que eu assumisse o lugar dela. Mas seu avô tinha uma reunião fora da empresa e não voltaria tão cedo. Seu pai me chamou na sala dele, trancou a porta e não me deixou sair.
- Claro, Heitor, já fazem tantos anos, talvez seja bom sua família saber, já que vocês estão expulsando os demônios. – Julia consentiu.
- Julia, não há como reparar o mal que aquele infeliz te fez, mas eu gostaria de fazer alguma coisa por você. – Eu queria compensá-la de alguma forma.
- Você já faz, Heitor. Você é um bom homem e você me trata com respeito, vive me enchendo de presentes, valoriza o meu trabalho. Você é mais do que meu chefe. – Julia sorriu secando as lágrimas.
- A gente é parceiro, Julia! – Sorri pra ela. – Você sabe que eu tenho um grande carinho por você.
- Eu sei, querido. E você sabe que é recíproco. Além do mais, nada pode ser melhor do que o prazer que eu tive quando você assumiu essa empresa e recentemente quando você proibiu a entrada daquele monstro aqui. – Julia realmente tinha ficado feliz com essas coisas.
Me levantei e abracei minha secretária. Insisti sobre o segurança, mas ela garantiu que não precisava.
- Quer saber, vou te dar uma coisa e você não vai recusar. – Falei pensando em algo. – Mel, marca pra Julia e o marido, para o próximo fim de semana, o melhor pacote pra casal naquele SPA incrível que você me levou, com tudo o que a Julia tem direito.
- Ah, mas eu nunca recusaria um SPA. É aquele que você me falou, Mel? – Julia sorriu.
- Aquele mesmo, Julinha, você vai amar! – Melissa sorriu pra ela e piscou pra mim, num claro sinal de que eu tinha acertado no presente.
Quando esse dia terminou, tudo o que eu queria era ir pra casa e abraçar a Samantha pelo resto da noite. Eu estava esgotado, não tinha mais força pra nada, estava realmente muito cansado. Contudo, eu ainda demoraria a conseguir o meu tão desejado descanso.
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