Meu pai me olha com aqueles olhos negros semicerrados, o olhar fixo e duro, o mesmo que ele usa para todos que ousavam desafiá-lo.
— Escondeu de todos que estava saindo com seu irmão. Abriu as pernas para ele antes do matrimônio. Ela é uma golpista, por isso ficou grávida. É com essa mulher que irá se casar?
—O senhor está enganado. —Digo com a respiração presa na garganta.
Todos os músculos de meu corpo queimam com fadiga.
—Por que você quer assumi-la?
Estremeço, não estou preparado para contar-lhe meus sentimentos.
—Não acho certo afastar o filho de uma mãe.
—Allah! Ela conseguiu o que queria. Sabe que eu fiquei com receio que isso acontecesse quando a quis levar para a sua casa? Mas eu estava tão aéreo com a morte de seu irmão que não consegui raciocinar direito, e juntando isso, eu não a queria vê-la na minha frente, mas agora vejo que errei. Ela, com aquele jeitinho de mulher virtuosa está enganando a todos.
—Pai, o senhor está enganado. Ela...
Meu pai avança sobre mim.
—Saia da minha frente. Eu não quero ver tua cara. Eu considero uma traição isso que está fazendo.
—Traição? É a minha vida.
—Seu desgraçado! Seu irmão está morto por causa dela.
—Meu irmão está morto por ser inconsequente.
Meu pai quase me acerta o queixo, eu me esquivo de seu ataque indo para trás. Ele fecha mais os punhos.
—Some daqui. Melhor você se esquecer por um tempo que é meu filho.
Odeio esse tom arrogante dele.
—Sim, pois o senhor já se esqueceu disso há muito tempo. Zein sempre foi o seu filho predileto.
Meu pai fricciona os dentes.
—Seu irmão me era submisso, diferente de você. Essa mulher o engodou. Eu vi os sorrisos que ela deu para ele na festa.
Eu dou um sorriso amargo.
—Essa boa! Ela o engodou? Zein sempre fez tudo na surdina para não bater de frente com o senhor, isso sim. Mas no fundo, ele fazia o que queria.
Meu pai estremece de nervoso.
—Limpa sua boca para falar do seu irmão. Pare de acusar quem já se foi, ele está morto e não pode se defender.
—O senhor então deveria se preocupar com os vivos e não com os mortos.
Saio da presença dele, cabisbaixo. É sempre assim, ele nem me ouviu direito. Meu peito se aperta dentro de mim, esgotado.
Horas depois Shopping Marina Mall
—Não acredito! Você...vai assumir a mulher de seu irmão!
Eu a olho impassível.
—Exatamente.
—Você prefere se casar com uma estranha a se casar comigo?
—Salaam Aleikum.
— Alaikum As-Salaam. Pensei que fosse voltar só semana que vem de viagem, resolveu tudo lá?
Eu fungo.
—Era a minha intenção, inclusive deixei algumas ações que gostaria de ter tomado. Tive que voltar antes.
Eu assinto.
—Sim.
—Vamos tomar um café e você me conta tudo.
Concordo. Quem sabe me abrindo eu espaireço um pouco, mas meu celular toca e eu paro de andar. No visor, meu pai. Eu encaro Burak, e atendo.
—Alô.
—Avise a garota que vou abrir mão da criança. Ela pode nem ser de seu irmão. Entregue seu passaporte e vá para a Inglaterra, compre um apartamento confortável e dê um bom dinheiro que ela se manter até seu filho nascer e um pouco mais. Assim ela poderá se virar durante um tempo até conseguir um emprego. Ela é inteligente, sagaz.
Eu ofego.
—Pai, eu vou me casar com ela.
Silêncio.
Então meu pai pragueja e interrompe a ligação.
Eu respiro fundo e encaro Burak que está me esperando. Momentos depois, um burburinho de vozes está ao meu redor no restaurante lotado, mas eu estou focado em contar a minha história, da qual guardei só para mim durante muito tempo. Olho fixamente para ele e começo a reviver tudo.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Cativa do Sheik
Muito bom mesmo esse livro!...
To gostando desse livro... bem leve e interessante....