Hana
Assim que coloco os pés para fora das portas de vidro que davam acesso à rua sou abordada por uma mulher alto, magra, de longos e lisos cabelos negros escorridos. Os piercing em seu rosto chama a atenção e as tatuagens em seus braços magros e desnutridos também.
Acabo franzindo as sobrancelhas ao observar seus dedos finos se envolveram em meus ombros com certo desespero.
- Você precisa deixá-lo. -Afirma com convicção.
-O quê? Do que está falando? - Pergunto perdida.
-Você não conhece ele... - Ela balança a cabeça com convicção.
- Eu não te conheço, você deve estar me confundindo. -Tento soltar suas mãos de meus ombros, mas ela insiste em se segurar com força exagerada e aquilo estava começando a me assustar, afinal, não esperava ser abordada daquela forma, no meio da rua.
-A dias venho querendo falar com você, mas não consegui me aproximar sem ele estar por perto. Layonel não é uma boa pessoa. - Ela afirma praticamente me chacoalhando.
Demoro um pouco para compreender quem era ela é finalmente entendo o que estava havendo ali e não acredito no escuto.
-Valéria, você é Valéria. -Afirmo e ela concorda.
-Você precisa se afastar, ele merece estar sozinho, assim como eu, se culpando pela morte da nossa filha. A culpa foi dele, aquele acidente.... -A corto erguendo uma mão.
-Você está enganada, foi uma fatalidade o que aconteceu com sua filha e ele não merece viver sozinho, nem você merece. Os dois erram e eu concordo nisso, mas acusar Layonel dessa forma, com tanto ódio explícito em sua voz é um exagero. Ele merece sim a felicidade, se culpou e se julgou demais e se ninguém nunca disse na sua cara a verdade por ter dó ou te achar uma viciada, eu vou dizer. A maior culpa da morte da sua filha foi sua, Layonel pode até ter parcela de culpa por estar dirigindo uma moto naquela noite, mas a pessoa que injetou drogas nas veias sabendo que esperava uma criança foi você. -Cuspo as palavras com tanta raiva que preciso me controlar fortemente para não gritar.
Surpresa com minha reação ela dá um passo atrás de certo modo chocada.
-Você acusou ele de forma horrível quando sabia que ele não era culpado e precisava do seu apoio para superarem juntos uma perda tão triste. Jogou o peso da culpa nas costas dele, o fez se isolar, se culpar, se martiriza dia a após dia, apenas para ter seu ego frágil dominado pelo prazer de vê-lo se ferir.
- Ele merece a dor assim como eu. - Diz com raiva.
- Não, ele não merece, você é quem precisa de um tratamento. Nem você merece essa dor Valéria, abra seus olhos, já fazem quantos anos que tudo isso aconteceu? Você merece encontrar uma pessoa e seguir em frente, tentar concertar os erros que cometeu no passado, você merece ser feliz assim como Layonel e nada que você me fale vai tirar a certeza de sabe que ele é o homem mais maravilhoso que eu poderia encontrar. Ele é gentil, amoroso e maravilhoso, trata minha filha como uma princesa e ama ela de forma que nem mesmo o próprio pai faz, você não conhece o homem que viveu ao seu lado suficientemente bem, pois estava preocupada demais em viver a sua vida da maneira que lhe convinha. Layonel é o homem mais perfeito e incrível que poderia aparecer na minha vida e eu estou pedindo que não se aproxime da gente e vá viver sua vida. Vá encontrar a felicidade e não tentar enterrar a felicidade das outras pessoas. -Ofego quase sem fôlego por tentar dizer tudo de uma vez, tirar toda aquela angústia reprimida de dentro de mim despejando nela a verdade, pois era isso que eu queria fazer a muito tempo.
Calada ela olha de mim para alguém atrás de mim.
-O que faz na porta da minha empresa Valéria? -Me surpreendo ao ver Layonel atrás de mim.
- Você se esqueceu do que fez? -Sussurra inconformada.
- Não há sequer um dia na minha vida que eu esqueça daquela noite. -Layonel afirma com pesar e meu peito se comprime em tristeza. -Mas eu aprendi uma coisa ao longo desses meses ao lado de Hana, que me trancar e martirizar pelo que aconteceu aquela noite, não vai trazer nossa filha de volta.
Volto minha atenção para ele surpresa com sua resposta e sinto meus olhos marejarem com aquela declaração.
Apoio minha mão em sua nuca e sorrio com aquela reação inesperada.
- Eu te amo Hana, não vou deixar meu passado ficar entre nós. -Deixa um demorado beijo em minha testa.
Concordo com um aceno, mas algo começa a me incomodar, então resolvo perguntar.
-Valéria te procurava antes? -Pergunto com certa cautela, não por estar desconfiando dele, mas pelo fato de não ter comentado que ela o procurava.
-Na verdade fazem alguns anos que não aparece e achei até que ela tinha seguido a vida dela, mas vejo que não. Algumas vezes ela veio atrás de dinheiro e outras em recaídas pela morte de nossa filha, me acusando e me culpando, mas como eu disse, fazem alguns anos que não a vejo.
-Espero que ela não apareça mais. -Suspiro fazendo uma careta.
-Hoje o dia está bem conturbado e sendo sincero, não quero mais surpresas. -Layonel faz uma careta e sou obrigada a concordar.
Só bastava Ivan dar as caras e bem no fundindo do meu coração pressentia que isso não demoraria a acontecer, afinal ele não ficaria quieto e fugindo pelo resto da vida.
-Ramon, nos leve para casa, não estou com cabeça para dirigir. -Layonel me guia até o carro abrindo a porta para mim entrar enquanto o segurança confirma a ordem com um mandar de cabeça. -As dezoito horas quero que fique encarregado de buscar Daisy na escola e a leve para casa em segurança.
- Sim senhor. -Confirma dando partida no carro.
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