Layonel me acordou cedo para tomarmos café da manhã e seguir de volta para salvador. A viagem foi feita em silêncio, ele tentou frustrantemente me distrair com alguns assuntos aleatório, mas não funcionou, minha mente estava longe demais e viajar com meios de transportes aéreos não era o meu forte. Além disso os pensamentos da noite passada ainda estavam me atormentando e por mais que eu tente esconder o meu estado crítico e lamentável de espirito estava frustrada demais comigo mesma para conseguir.
-Está tudo bem? –Seus lindos olhos verdes preocupado me encaram curiosos.
-Sim. –Resmungo com um sorriso contido nos lábios.
-Não é o que parece. –Ele murmura mais para ele do que para mim.
-Meios de transporte aéreo não é o meu forte. –Culpo o helicóptero.
-Algo além disso lhe incomoda Hana, é visível. –Ele comenta com a atenção voltada para frente.
-Me desculpe. –Desvio o olhar observando a vista e opto por permanecer em silencio, pois prosseguir com o assunto seria desnecessário. Ele não poderia me ajudar e eu não quero envolver assuntos pessoais com trabalho.
Gradeço mentalmente pelo resto do caminho ser feito em silencio até finalmente chegar no hotel. Layonel me deu a liberdade de sair para conhecer a localidade, mas não estava bem o suficiente para isso, então fico trancada no quarto o resto da manhã.
A fome começa a apertar e não queria descer até o restaurante para almoçar com Layonel como ele havia pedido. Resolvo analisar o cardápio para pedir algo no quarto mesmo e evitar encontros desnecessários. Ao pegar o interfone para solicitar meu almoço a campainha do quarto toca me pegando de surpresa.
Abro a porta e me surpreendo ao ver Layonel parado do outro lado.
-Senhor?
-Já disse para não me chamar assim. –Um pequeno sorriso surge em seus lábios.
-Me desculpe é o habito.
-Marquei um horário no salão para você aproveitar o seu dia Hana. –O sorriso em seu rosto aumenta e me surpreendo com a beleza daquele homem.
Layonel é fascinante e apesar de bipolar é carismático e charmoso, não é algo forçado, é simplesmente natural. A sensualidade e sutileza estão ali e isso o torna ainda mais belo.
-Salão? –Acabo franzindo a sobrancelha.
-Você será minha acompanhante hoje à noite, então acreditei que quisesse se arrumar. O meu motorista está a sua espera. –Ele não me dá a oportunidade de questionar.
-Ir a um salão não estava em meus planos. –Murmuro para mim mesma vendo ele franzir as sobrancelhas.
-Posso cancelar se quiser. –Sugere.
-Não. –Falo rapidamente. –Acho que devo me arrumar para essa festa. –Encolho os ombros.
-Antes vamos almoçar.
-Mas eu ia pedir comida agora mesmo... –Sussurro pensativa.
-Você vai almoçar comigo e melhora essa carinha desanimada. –Ele afirma com convicção.
-Como voc.... –Balanço a cabeça e acabo sorrindo. –Obrigada!
-Não me agradeça. –Ele sorri cruzando os braços. –Vamos você irá se atrasar para reserva que fiz no salão.
-Eu só preciso de cinco segundos. –Indico as roupas velhas e ele sorrio confirmando com um aceno de cabeça.
-Um, dois, três, quatro, cinco. –Conta rapidamente. –Está atrasada senhorita Ravallo.
-Cinco minutos. –Grito fechando a porta e acabo rindo com o jeito brincalhão.
-O tempo está correndo. –Ouço ele falar enquanto visto a primeira peça de roupa que encontro na frente.
Assim que estou pronta abro a porta e vejo ele contando os minutos no relógio.
-Quatro minutos e quarenta e cinco segundo isso é um record. –Fala com um tom de surpresa.
-Eu não acredito que você estava contando. –O observo indignada.
-O que? Eu levo muito a sério horários. –Balança os ombros com uma expressão séria enquanto caminhamos para o elevador.
Faço uma careta ao perceber que ele falava sério.
-Estou brincando Hana.
-Não me assuste assim. –Suspiro aliviada.
-Foi engraçado. –Ele nega com a cabeça arrumando a gravata através do espelho do elevador.
Seguimos para o restaurante em clima mais leve e Layonel parece mais descontraído e despreocupado. Não sei por quanto tempo isso vai durar já que seu humor é instável, então aproveito para me distrair e almoçar com ele realmente acalmou meu coração.
Ao terminarmos o almoço Layonel diz que tem algumas coisas para resolver na cidade e segue junto comigo até o salão.
Apesar de achar tudo aquilo um grande exagero faço as coisas conforme ele quer, afinal precisava mesmo estar apresentável para essa festa. Na verdade preciso mesmo estar impecável.
O caminho é feito rapidamente e me surpreendo com o luxo e sofisticação do lugar escolhido por ele.
-Venho pessoalmente te buscar senhorita Ravallo. –Se despede enquanto caminho surpresa até a entrada.
-Boa tarde! Qual o seu nome? –Uma moça gentil e educada se aproxima.
-Hana Ravallo. –Sorrio tímida.
-Estávamos a sua espera Hana. –Ela sorri abertamente. –Poderia me acompanhar por favor. –Indica o caminho.
-Claro. –Sigo admirada com o luxo do local.
-O senhor Drevitch pagou o pacote completo do nosso salão, então relaxe pois você terá um dia de princesa. –A jovem loira com o crachá escrito Eloisa comenta com um grande sorriso no rosto e por um momento me sinto péssima por ter aceitado tão facilmente o pedido de Layonel, mas como recusar?
Ele é intimidador demais e eu jamais poderia acompanha-lo em uma festa sem estar no mínimo apresentável. Bom, não vou ficar lamentado, vou apenas aproveitar tudo o que esse salão maravilhoso tem a me oferecer, pois realmente estava precisando relaxar e já que ele pagou tudo não irei reclamar.
Seguimos para a festa em silêncio, mas momento ou outro via seus olhos percorrer meu vestido me deixando incomodada. Para quebrar o clima constrangedor resolvo agradecer pelo dia, pois realmente estava precisando e foi maravilhoso conhecer as meninas.
-Obrigada! –Agradeço gentilmente e ele ergue uma sobrancelha sem entender o que estava dizendo. –Pelo dia no salão. –Concluo.
-Fico feliz que tenha gostado, foi um presente por ter aceito a viagem e ir comigo nessa festa. –Ele sorri, mas não é como o sorriso na fazendo, é um sorriso vazio e ensaiado.
-Eu gostei da viagem e principalmente de conhecer a fazenda é um lugar acolhedor e aconchegante sem contar que é maravilhoso. –Falo com sinceridade.
Ele me observa calado e pensativo, depois volta seu olha para a janela perdido em seus pensamentos. Resolvo não tocar mais no assunto “Fazenda”, pois é visível que isso mexe diretamente com seu psicológico.
-Meu avô trabalhou muitos anos nas vinícolas da Espanha, quando chegou ao Brasil não tinha nada, apenas a experiência que adquiriu em lidar com as uvas. Na época imigrantes não eram bem vindos e conseguir trabalho passou a ser difícil, então resolveu plantar algumas pequenas parreiras e vende-las para conseguir dinheiro. –Suspira como se aquela história o machucasse.
Antes de continuar ele me observa calado e em troca sorrio mostrando que estou interessada em sua história.
-Como ele conhecia e sabia cuidar dos pés de uva, elas sempre produziam mais e com sabores exóticos, assim ele começou a ficar conhecido e então investiu esse dinheiro em terras aumentando os hectares. Por volta de 1967 as vinícolas Drevitch foram fundadas e desde então estamos crescendo. –A saudade fica explicita em seus olhos.
-Eles deviam ser avós incríveis. –Sorrio me lembrando da minha infância e dos meus avós que me criaram.
-Sim, mas infelizmente morreram cedo. –Ele não entra em detalhes sobre a morte e opto por não perguntar.
-Sinto muito. –Murmuro.
-Já fazem alguns anos. –O carro para e de certa forma agradeço, pois não sabia o que falar naquela situação. –Bom, chegamos.
A porta se abre e ele sai estendendo sua mão para me ajudar, quando saímos uma chuva de flashes nos recepciona enquanto caminhamos para a entrada sobre o longo tapete vermelho, não esperava essa recepção calorosa e evito ao máximo olhar para os lados focando apenas na entrada.
Layonel apoia a mão em minha cintura guiando-me até a entrada evitando as perguntas dos fotógrafos, mas pousamos para algumas fotos. Quando passamos pelas portas de entrada ele respira profundamente oferecendo o braço para mim, seguro gentilmente o observando.
-Está pronta? –Ele me observa duvidoso.
-Você deveria ter perguntado isso a alguns minutos atrás. –Sorrio nervosa e assustada.
-É porque nem mesmo eu estava. –Ele admite.
-Isso não é reconfortante. –Faço uma careta.
-Apenas fique ao meu lado, por favor. –Arregalo os olhos ao ouvir a palavra por favor vinda dele.
-Você já fez isso antes? –Pergunto preocupada.
Ele ignora minha pergunta apoiando sua mão quente sobre a minha que segura seu braço, com calma caminhamos entre os convidados e acabo assumindo o piloto automático sorrindo para todos que nos cumprimentavam.
Layonel não parece estar confortável entre tantos convidados que o param para conversar sem sentindo e lhe fazer perguntas estranhas. Quando o assunto envolve a empresa seu corpo relaxa um pouco, mas quando a conversa envolve sua vida pessoal e questionamentos sobre vida amorosa até sua respiração muda me deixando preocupada.
Ele é um homem muito centrado e cautelo e confesso que me surpreende vê-lo tão vulnerável diante destas pessoas.
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