Jéssica Rocha lançou um olhar furtivo ao redor, assegurando-se de que não havia ninguém por perto antes de se dirigir a Mariana Leme: “Nada ocorreu entre nós. Após o jantar, eu peguei um táxi e voltei para casa. Não mencione mais esse assunto.”
“Ah.” Mariana Leme parecia um pouco desapontada, mas antes que pudesse dizer mais alguma coisa, Jéssica Rocha deu-lhe um tapinha no ombro.
Ela então aconselhou Mariana a saborear o doce amor do momento, mas sempre com precaução, evitando entregar-se completamente.
Jéssica havia sido profundamente influenciada pelos seus pais desde pequena, o que a levou a ter uma certa patologia emocional.
Talvez Mariana Leme fosse a exceção, e ela desejava que Mariana pudesse encontrar um amor para a vida toda.
Quando soube que a diretora a procurava, Jéssica Rocha foi ao escritório da diretora.
Inicialmente, a conversa girou em torno de amenidades e a possibilidade de promoção a coordenadora, mas levou um tempo até que o verdadeiro motivo da reunião emergisse.
“Recebi notícias de que um empreendedor imobiliário vai replanejar esta área. O orfanato ao lado, bem como este terreno, estão incluídos no plano. Como você sabe, aquela área era originalmente destinada a uma piscina externa.”
Jéssica Rocha não estava particularmente preocupada com a piscina, uma vez que já dispunham de uma piscina interna climatizada.
O que realmente lhe importava era o orfanato vizinho, fundado no final do século passado por um generoso senhor.
Embora pequeno, com a ajuda da comunidade e o legado do falecido benfeitor, havia acolhido centenas de crianças.
“E o orfanato, como fica?”
“Eles não possuem escritura do terreno, portanto, é justo que se mudem. Profa. Rocha, o que quero dizer é que ainda podemos influenciar o que acontecerá com o nosso terreno.”
Jéssica Rocha sentiu um aperto no peito, “Diretora, você está sugerindo...”
“O projeto será liderado pelo Grupo Família Garcia.”
“Família Garcia...”
“Sim, o pai do Cassio, seu aluno. Profa. Rocha, poderia conversar com o Sr. Garcia em nome da nossa escola? Para eles, aquele pedaço de terra é irrelevante, apenas um canto onde poderiam plantar um jardim. Mas para nossas crianças, significaria uma piscina de luxo.”
Jéssica Rocha sabia que ser promovida a coordenadora era só um pretexto, o objetivo real era usá-la.
A diretora disse com um sorriso: “Sei que não é fácil, mas somos educadores e tudo que fazemos é pelos nossos alunos. Não importa se terá sucesso ou não, vale a pena tentar, não acha, Profa. Rocha?”
Jéssica Rocha concordou sem muita convicção: “Eu posso tentar, mas não crie muitas expectativas.”
Essa compreensão só fazia com que a dor aumentasse. Ela precisava fazer algo por elas.
Com o coração pesado, Jéssica pegou seu celular e procurou o contato salvo como [Pai de Cassio Garcia]. Fazer essa ligação era, sem dúvida, um ato de autocontradição, especialmente após a firmeza que demonstrara na noite anterior.
Ela hesitou por um longo tempo, seus dedos trêmulos finalmente tocaram a tela para fazer a chamada.
Não era frequente ela ligar para ele, geralmente se comunicavam pelo WhatsApp.
Agora, seu coração estava inquieto. Apenas na noite passada, havia encerrado a conversa de maneira definitiva. Procurá-lo tão rapidamente poderia ser interpretado como um sinal de fraqueza. Será que ele já teria bloqueado seu número?
Tuu tuu tuu —
Após três toques, a voz familiar do homem ressoou do outro lado da linha.
"Alô." A voz do homem era calma e suave.
Não havia nenhum traço da zombaria ou escárnio que Jéssica Rocha imaginou. A tranquilidade na voz dele a deixou ainda mais desconfortável, sem saber como começar a conversa.
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