A louça tilintava na pia. O caos emocional, no entanto, era ensurdecedor.
Helen estava de costas para todos, com as mangas da blusa puxadas até os cotovelos e as mãos ocupadas entre espuma e pratos. Respirava fundo. Muito fundo. Mais uma travessa, mais um suspiro. Era o preço da dignidade.
Ethan se aproximou devagarinho, como um predador que já sabia a presa rendida, só que a presa, no caso, era uma mulher com um pano de prato e zero paciência.
— Amor… — ele disse com a voz baixa, arrastada, enquanto encostava atrás dela. — Já te contei como você fica sexy lavando louça?
— Ethan, não começa. — ela respondeu, sem se virar, apertando a esponja com um pouco mais de força do que o necessário. — Por Deus, só me deixa terminar isso sem causar mais escândalo.
— Você sabe que eu fico… profundamente mexido com espuma, sabão e o modo como você esfrega uma frigideira. — sussurrou, aproximando os lábios do pescoço dela.
Helen fechou os olhos, vencida por um arrepio.
— Ethan… eu juro… mais uma gracinha sua e você vai dormir no sofá por uma semana.
— Vale a pena — respondeu ele, já depositando um beijo no pescoço dela. — Porque ver você toda mandona assim me deixa…
— Tô ouvindo, tá?! — gritou David da sala. — Essa casa tem eco, sabia?
Helen girou de uma vez, segurando a colher de pau como se fosse uma espada. Ethan levantou as mãos como quem se rende, com um sorriso sapeca.
— Eu só ia ajudar a lavar…
— Lavando minha paciência é o que você tá fazendo! — resmungou ela.
Nesse instante, April e Mel entraram novamente na cozinha, cada uma com uma tigela de cereal.
— Mãe, por favor… diz o que aconteceu. Foi briga? — perguntou April. — Porque o David tá com cara de quem descobriu que Papai Noel não existe.
— E o Tiago? — completou Mel. — Ele tá falando sozinho sobre “lições de vida” e “amor verdadeiro”. Isso é estranho até pra ele.
Helen trocou um olhar rápido com Ethan, que apenas ergueu uma sobrancelha.
— Foi só… um momento. — ela disse, entregando-se ao inevitável. — Um momento… entre adultos… que se amam… muito.
April estreitou os olhos.
— Tipo beijo?
Helen piscou, nervosa.
— Hã… sim, tipo isso. Só que mais… ruidoso. E com… móveis envolvidos.
Mel tossiu o leite.
— VOCÊS TRANSARAM NO ESCRITÓRIO?!
— MEL! — gritou Helen, quase jogando um prato no chão.
Ethan gargalhou alto.
— Bom, tecnicamente falando, sim. Mas foi tudo com muito amor, viu?
— Eu não preciso ouvir isso pai. — murmurou David, cruzando os braços e fazendo um bico sentado no sofá.
Tiago, do sofá, levantou a mão:
— Tio Ethan… posso só perguntar uma coisa?
— Manda.
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