Passei a noite inteira em claro, checando o celular de tempos em tempos para ver as horas.
Assim que deu onze horas, eu já estava de pé, observando atentamente o corredor.
Francisca me colocou em um quarto VIP, que por sorte ficava bem próximo à escada.
Contei os minutos em silêncio, até notar que o led vermelho da câmera de segurança na escada se apagou, indicando que o sistema de monitoramento estava sendo atualizado.
Aproveitei o momento de distração e saí do quarto rapidamente, subindo as escadas.
Duas andares acima estava o terraço. Ao empurrar a porta pesada do terraço, apertei ainda mais a faca de frutas que levava comigo.
O vento no topo do prédio era frio, e eu me envolvi mais apertado em minha roupa, olhando em volta.
De repente, a porta atrás de mim se fechou, e então vi uma figura curvada.
“Tio Gustavo?”
Caminhei cautelosamente até ele e ele disse em uma voz rouca: “Venha comigo.”
Ele me levou até um canto do terraço.
Aqui ventava muito menos e ainda estava protegido da vista.
Ele tirou o chapéu e a máscara e, ao ver as cicatrizes em seu rosto, e eu cobri a boca com as mãos, incapaz de segurar as lágrimas.
“Tio Gustavo, como...?”
“Você deve saber sobre o incêndio.”
Ele suspirou e sacudiu a cabeça, sentando-se numa cadeira abandonada.
“Mia, faz tanto tempo... É bom te ver.”
Concordei com a cabeça, sem saber bem o que dizer.
É bom vê-lo? Ele não parecia estar muito bem.
Mas, talvez, se eu não o tivesse visto, ele estaria ainda pior.
“Tio Gustavo, você viu a Inês, não é?”
Eu me engasguei um pouco ao pensar na figura que estava na frente da enfermaria naquele dia.
Pai e filha separados por tantos anos, nada poderia ser mais doloroso.
“André voltou atrás, e a tia não fez a cirurgia.”
Minha voz estava calma, sem saber qual deveria ser minha expressão.
Gustavo acenou vigorosamente com a cabeça: "Sim, é tudo culpa minha, meu carma".
Ele não pediu meu perdão, e eu não disse mais nada.
Ele tinha culpa, André também, mas ele também era uma vítima.
Olhei para fora do terraço, onde, mesmo à noite, as luzes brilhavam intensamente, em um cenário de festividade que não nos pertencia, a nós que não tínhamos onde chamar de lar.
“Mia, todo ano eu dou para o André uma parte das provas de como ele me coagiu a incriminar seu pai, e guardo outra parte em um cofre.”
“Também tem um pouco de dinheiro que deixei para Inês. Não confio em mais ninguém, só em você.”
Ele me entregou uma chave de cofre e um pequeno envelope.
“Aqui tem uma procuração, você pode retirar as provas.”
“E nesse pen drive, tem parte das evidências da conspiração entre a família Barroso e a família Lopes. Está tudo com você.”
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