Além do horizonte romance Capítulo 6

Eu precisava agir o mais rápido possível ou forçariam Guadalupe a se casar com Gabriel, Leonel já tinha muitas dívidas de jogo e comprei todas as promissórias que ele havia assinado com outros apostadores da região.

Era uma boa quantia, daria para comprar dois ranchos como o dele.

– Sebastião, vá até o rancho do velho Leonel e traga-o até aqui. Diga que tenho um assunto do interesse dele a tratar. – Pede Atílio e Sebastião concorda com a cabeça.

– Sim senhor.

Ele foi até lá a cavalo, Leonel alimentava os porcos e o peão da fazenda vizinha se aproximou.

– Seu Leonel, meu patrão precisa falar com o senhor agora. Me pediu para leva-lo até lá agora. – Sebastião retirou o chapéu e se aproximou.

– Diga a ele que agora eu não posso ir.

– Ele disse que é um assunto do seu interesse.

Leonel ficou preocupado, afinal o que aquele homem tão importante e rico poderia querer tratar com ele? Montou em seu velho cavalo e foi até lá com o peão.

– Fico feliz em ver que não recusou meu convite desta vez. – Diz Atílio ao recebe-lo em sua casa.

– Sebastião disse que era um assunto do meu interesse.

– Claro que sim e sente-se.

Leonel parecia acuado e acima de tudo muito curioso pelo assunto que eu tinha com ele.

– Reconhece essas promissórias? – Perguntou Atílio.

Entreguei a ele, que examinou uma a uma.

– Sim, são minhas, mas como conseguiu todas elas? Sei que lhe devo um bom dinheiro, mas algumas destas dívidas eu não contraí, pelo menos não com você rapaz. – Leonel olhava todas elas assustado.

– Tem razão, paguei muito por algumas delas e muito mais do que o valor que tinham de verdade.

– E por que você faria isso? Que interesse pode ter em me fazer dever tanto?

– Chegamos ao ponto que eu preciso. – Atílio se levantou, colocou whisky em um copo para Leonel e para si mesmo.

Me levantei e dei alguns passos enquanto ele me acompanhava com olhar preocupado e sequer provou a bebida em seu copo.

– Eu quero algo seu.

– O que poderia querer de um velho como eu? – Indagou Leonel.

– Sua filha! – Atílio sorriu e tomou todo o conteúdo de seu copo em um só gole.

– Guadalupe não é um objeto e nem está à venda. – Gritou ele.

– Claro que não, sua filha é uma moça magnífica e eu a quero ao meu lado.

– Minha Guadalupe não pretende se casar!

– E quem falou em casamento? Quero que ela venha viver comigo nesta casa em troca de eu não te mandar para cadeia por todas essas dívidas e deixar ela e a mãe na rua da amargura. – Ao ouvir tais coisas Leonel ficou furioso, jamais imaginou que Atílio pudesse ser um homem tão cruel.

– Minha filha vem recusado todos esses anos vários pedidos de casamento, por que acha que ela iria querer viver contigo e ainda mais assim amasiada e sem qualquer compromisso marital?

– Sei que vai convencer ela, assim como tem tentado convencê-la a se casar com aquele imbecil do Gabriel e até chegaram a ficar noivos.

– Ela não aceita Gabriel e não aceitará essa sua proposta imunda! – Leonel quebrou o copo no chão com toda a raiva que sentia.

– Você é quem sabe. Ou me traz ela amanhã mesmo, ou te mando para cadeia.

– Já adianto nossa resposta é não! Minha filha é uma moça direita e não vai viver em pecado com ninguém! – Leonel saiu daquela sala a ponto de sofrer um ataque de tanto ódio do que ouviu.

Engoli aquela maldita desfeita e a vontade que eu tinha era de ir pessoalmente buscar ela à força daquele rancho imundo.

Leonel chegou em casa, sem chão não podia sequer encarar a esposa direito.

– Que cara é essa, meu velho? Voltou da casa aquele homem sem conseguir me olhar nos olhos, me diga o que aconteceu?

– Estou perdido, coloquei nossa filha em uma armadilha terrível e ela jamais irá me perdoar por isso. – Diz ele jogando o chapéu velho sobre a cama.

– O que você fez?

– Contraí uma dívida enorme com aquele homem maldito e ele pretende me mandar para a cadeia e tirar nossa casa se Guadalupe não se tornar amante dele.

– Esse homem é mesmo um monstro! – Responde Ester disparando seus batimentos.

– Ele está obcecado por ela e eu devia ter notado que ele faria tudo para conseguir isso, me fez uma armadilha e eu estúpido caí.

– Pobre da nossa filha...

– Não! ela não pagará pelos meus erros, vou me entregar a polícia. Não quero que diga nada sobre isso e se perguntar por que fui preso diga que briguei na taberna e me levaram. Os animais que temos e o leite, darão para vocês se manterem por um tempo. – Ele toca os ombros da esposa que chorava inconformada.

– O que será de nós duas sem você?

– Tem que ser forte para que ela também seja. – Leonel abraça Ester.

Naquela noite Leonel e Ester não conseguiram dormir pensando no que poderia acontecer no dia seguinte.

Longe dali.

– Padre que prazer rever o senhor. – Diz Atílio acariciando a mão do sacerdote.

– Parecia decidido a conquistar Guadalupe.

– E eu estou.

– Então não está sabendo que a família dela foi falar comigo com o intuito de marcar uma data para o casamento o mais breve possível.

– Ela não vai se casar com ele! – Atílio elevou o tom.

– Então o que pretende fazer Atílio?

– Me ajude a me encontrar com ela, precisamos nos falar sozinhos sem ninguém para atrapalhar.

– Na igreja, lá eu estaria de olho nos dois e tenho certeza que ela não recusaria um pedido meu.

– Na igreja?...está bem então, amanhã no mais tardar.

Atílio e o padre se despediram depois de acertar detalhes de algumas obras de caridade.

– O padre já foi? – Perguntou Amélia se aproximando.

– Sim e agora eu irei até a cidade, tenho algo muito importante para resolver e não posso esperar mais um segundo para isso.

Peguei meu carro e minutos depois cheguei a delegacia e o delegado prontamente me atendeu pois naquela cidade imperava a lei do poder.

– O que o trás aqui meu jovem? – Pregunta o delegado ao lhe cumprimentar com um aperto de mão.

– Preciso de um grande favor, sei que não negaria um pedido meu. – Atílio sorriu acanhado.

Entreguei a ele todas aquelas promissórias e eles as examinou com cuidado.

– É uma boa quantia.

– Sim delegado, quero que prenda o velho Leonel ainda hoje! – Exigiu em tom sério.

– E acha que se eu o prender, ele terá como quitar essa dívida?

– Eu sei que não, mas só quero lhe dar uma boa lição.

– Já entendi. – O delegado sentiu pena por ser um idoso, mas era um homem poderoso que estava na sua frente e ele não podia negar.

– E mais uma coisa, não quero que ninguém saiba o motivo dessa prisão, ou me critiquem por ter mandado ele para lá e muito menos que agridam ou assustem a esposa e muito menos a filha dele.

– Claro Atílio, farei tudo conforme deseja...sem violência.

– Confio no senhor. – Os dois apertaram a mão mais uma vez e ele retirou um valor entregando a ele.

Entreguei a ele um bom dinheiro para que tudo fosse feito como eu queria, agora eu só precisava esperar que uns dias na cadeia o fizessem entender e convencesse a filha a vir morar comigo.

Na casa de Guadalupe.

– Faria isso de verdade?

– Claro que sim, suas lágrimas me compadecem...tenho me sentido sozinho naquela casa tão grande. – Atílio falou em tom comovente.

– Sozinho?

– Sim...me faz falta alguém para conversar, uma pessoa compreensível e doce. Assim como você!

Peguei uma de suas mãos, Guadalupe respirou mais aceleradamente e corou as bochechas.

– Não pretendo me casar com ninguém senhor Atílio! – Respondeu altiva.

– Respeito sua decisão, mas isso não te impediria de me fazer companhia naquela mansão tão grande e fria.

Ela se levantou visivelmente irritada com minhas palavras.

– Aceito que queira me ajudar com o papai, mas se pretende obter alguma vantagem... – Ele a interrompeu antes que pudesse terminar a frase.

– De jeito nenhum, vou hoje mesmo fazer tudo o que eu puder para tirar seu pai da prisão e em troca só quero devolver a alegria ao seu rosto.

Beijei sua mão e logo o padre logo entrou, nos despedimos e ele a levou de volta para casa.

Fiquei um tempo na cidade e resolvi assuntos relacionados aos negócios, já quase ao cair da noite fui até a delegacia libertar o ingrato Leonel.

Cheguei na delegacia e fui direto para sua cela.

– O que faz aqui? Veio ver se estou mesmo pagando caro por ter caído na sua armadilha suja? – Diz Leonel sentado naquele banco duro e frio que lá, tinha o nome de cama.

– Sem remorsos meu caro eu vim aqui te levar para casa.

– Não acredito em uma palavra sequer que venha de você.

– Deixe de remorso e pegue suas tralhas. – Atílio se encostou na grade e sorriu. – Vamos homem!

Leonel não questionou minhas "boas intenções" arrumou as poucas coisas que tinha e seguiu de volta para casa.

– Estive com sua filha agora a pouco. – Diz Atílio enquanto dirigia.

– O que fez com ela?

– Calma velho, não se altere assim (suspiro) nós apenas conversamos na igreja.

– Se afaste dela, deixe minha filha em paz! Ela não te fez nada!

– Não posso me afastar dela, nem se eu quisesse... – Atílio não notou, mas em sua fala havia mais submissão do que poder sobre os próprios sentimentos por ela.

Chegamos no rancho e ele mal esperou que eu parasse o carro para sair.

– Leonel? Graças a Deus está em casa! – Diz Ester ao abraçar o marido.

– Papai?

– Sim filha...estou em casa e dessa vez prometo que nunca mais vou falhar com vocês.

– Eu trouxe seu pai de volta para você Guadalupe, assim como havia prometido. – Atílio fez questão de se fazer notar por ela e revelar que havia feito sua “boa ação”.

Leonel queria me fuzilar com o olhar.

– Obrigada Atílio, de verdade muito obrigada! – Diz Guadalupe esboçando um sorriso e uma lágrima de gratidão.

Devolver a alegria a ela deu paz ao meu coração naquele momento, mas eu não podia me desviar das reais intenções que eu tinha.

– Então eu já vou indo, será que amanhã eu poderia vir falar conversar um instante com sua filha dona Ester? Sei que agora está tarde então...

– Minha filha não tem nada para tratar com você!

– Papai me desculpe, mas por favor dessa vez, me deixe responder por mim mesma...sim Atílio, venha amanhã e conversamos.

Saí de lá com um sorriso de orelha a orelha, amanhã eu poderia colocar em prática minha conversa mole e tenho certeza que ela irá cair de encantos por mim.

Uma garota humilde e no fim das contas, apenas mais uma sonhadora e romântica para minha coleção.

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