Então, era isso que havia acontecido.
Os lábios de Thaddeus se comprimiram. Ele já sabia que Hugo havia sequestrado Mirabella, mas não imaginava que fosse Trevor o responsável por desencadear toda essa tragédia.
Parece que, às vezes, uma investigação profunda é indispensável. Sem ela, ficamos à mercê de falsas impressões e cegos para a verdade. Recordando a hostilidade de Trevor sempre que falava de Hugo, Thaddeus achava tudo isso simplesmente irônico.
Mas o que realmente lhe parecia absurdo era que ele havia acreditado na versão contada por Trevor, como se Hugo tivesse sido o único a falhar com a Alcateia da Tempestade.
Thaddeus lançou um olhar de arrependimento e vergonha para Cassandra. Sentia-se culpado por ter aceitado uma história unilateral e assumido que o pai dela era um vilão.
Mas Cassandra não notou. Ela olhava para o colar que segurava em suas mãos.
— Então foi por isso que esse colar foi parar na Alcateia do Andarilho da Areia — murmurou ela, absorta. — Papai deve tê-lo tirado de Mirabella quando a levou.
— Sim — confirmou Agnes.
— E como Mirabella morreu? — perguntou Cassandra, agora com um receio doloroso em seu olhar.
Sob o olhar ansioso de Cassandra, Agnes começou a contar lentamente:
— Seu pai a afogou no rio, bem diante de Trevor e sua esposa. Mirabella era jovem, e, embora descendente de um poderoso lobo, ainda não sabia nadar...
O impacto da revelação deixou Cassandra desnorteada. A confirmação do que temia fez o mundo ao seu redor girar. Ela cambaleou, quase caindo, mas Thaddeus segurou seus ombros, apoiando-a em um abraço firme.
— Você está bem? — ele perguntou, preocupado.
— Estou... — Cassandra respondeu, a voz trêmula enquanto mordia o lábio, tentando conter a angústia.
— Rápido, sente-se aqui — disse Agnes, aflita, enquanto Thaddeus a ajudava a se acomodar.
Cassandra sentia o corpo inteiro trêmulo.
— Como papai pôde fazer uma loucura dessas? — murmurou ela.
Como ele pôde afogar uma criança? Agora, fazia sentido que Trevor tivesse levado seu pai à morte seis anos atrás. Era uma vingança que ele aguardava há muito tempo.
— Sim, ele foi imprudente, mas em certo ponto é compreensível — respondeu Agnes, com pesar. — Quando se é empurrado ao limite, é fácil cometer erros.
Cassandra fechou os olhos, sussurrando para si mesma:
— Ele foi realmente impulsivo.
— Mas há algo que não faz sentido nisso tudo — Thaddeus interveio, pensativo.
Cassandra o olhou, confusa.
— O quê, exatamente?
— Se seu pai afogou Mirabella na frente de Trevor e Ophelia, por que ele não foi preso? Com a sede de vingança de Trevor, é difícil acreditar que ele teria deixado seu pai impune — ponderou Thaddeus. — Não só ele deixou seu pai livre, mas também permitiu que continuasse liderando a Alcateia do Andarilho da Areia. Só seis anos atrás ele decidiu agir.
Cassandra se deu conta de algo.
— Isso é verdade. Por quê? Vovó, você tem alguma ideia?
Agnes balançou a cabeça.
— Não tenho certeza, mas talvez seu pai e Trevor tenham feito algum tipo de acordo. Caso contrário, é inexplicável.
Cassandra mordeu o lábio inferior.
— Seja como for, meu pai e o Alfa da Alcateia da Tempestade têm uma rixa que vai além disso.
Esse ressentimento começou com Trevor. Mesmo que seu pai tenha causado a morte de Mirabella, Trevor retribuiu levando seu pai à morte. A vingança talvez tenha equilibrado a perda de vidas, mas o rancor pelo roubo da tecnologia da Alcateia Andarilho da Areia ainda estava muito vivo. E Cassandra não deixaria isso sem resposta.
Thaddeus percebia o ódio que ardia no olhar de Cassandra e, por mais que desejasse aliviar o peso dessa dor, sabia que não tinha esse direito.
Perdido em pensamentos, foi trazido de volta pela voz fria de Cassandra:
— Thaddeus, quero destruir a Alcateia da Tempestade e responsabilizar Trevor perante a realeza.
Se a família real não tomasse uma atitude, Cassandra sabia que poderia resolver isso ela mesma. Claro, não mencionaria isso para Thaddeus, pois sabia que ele jamais concordaria em vê-la tirando a vida do pai de sua noiva.
Thaddeus já esperava suas palavras. O olhar de Cassandra transbordava de determinação.
— E então? — ele a fitou.
— Você pretende se envolver? — perguntou Cassandra, com o rosto inexpressivo.
— Não se preocupe, Cass — disse Agnes, tentando animá-la. — Apenas guarde o colar. Quem sabe um dia o significado dele se torne claro.
— Está certo — concordou Cassandra, rindo levemente. — Está ficando tarde. É melhor eu ir agora, vovó. O céu já está escurecendo.
— Thaddeus, leve a Cass para casa — pediu Agnes, voltando-se para o neto.
— Claro — respondeu ele, pegando as chaves do carro.
Mas Cassandra recusou gentilmente:
— Não precisa, vovó. Já recuperei minhas forças e posso ir sozinha. Não quero incomodar o Sr. Fallon. Até logo.
Com um sorriso, ela pegou a bolsa e se foi, sem sequer olhar para Thaddeus.
Ele cerrou os lábios, mas quase instintivamente começou a segui-la. Agnes, então, ordenou com firmeza:
— Pare!
— O que foi, vovó?
— Cassandra já disse que não precisa que você a acompanhe. Por que insiste? — ela o encarou, severa.
“Quando você podia levá-la, recusou. Agora, que ela recusa, de repente quer ir atrás dela. Quer Cass queira ou não, isso já é outra história”, pensou Agnes, desgostosa.
Thaddeus abriu a boca, mas, incapaz de responder, permaneceu em silêncio.
Agnes soltou um longo suspiro.
— E agora? Está arrependido?
— O quê? — ele murmurou, piscando.
— Não disfarce. Estou perguntando se você se arrepende de ter rompido o vínculo com Cass — Agnes o encarou, direta.
Ele sentiu o peito apertado, como se alguém o tivesse fisgado o coração, provocando uma dor aguda. Sem encará-la, baixou os olhos e, num tom contido, respondeu:
— Não.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: A ascenção da Luna
Que pena, estava gostando do livro... Da força da Cassandra, aí de repente uma cena p o imbecil se transformar em herói?!?!...